"A maneira como o país está a descarrilar dia após dia, no início do novo ano, eu acho que o primeiro-ministro, ele pessoalmente tem que fazer uma profunda análise se ele está em condições efetivamente de continuar a chefiar o Governo", defendeu o líder parlamentar do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), Raúl Cardoso, em conferência de imprensa de reação à mensagem do fim do ano Presidente da República.

No discurso à Nação, Presidente são-tomense, Carlos Vila Nova, pediu uma "governação mais responsável e mais presente", afirmando que os desafios dos anos anteriores continuam "quase todos sem solução" e o povo enfrentou "dificuldades significativas" em 2024, que foi um "ano difícil".

Sem se referir ao primeiro-ministro Patrice Trovoada, que tem sido várias criticado pelas múltiplas viagens que tem feito desde que assumiu a governação, em 2022, passando por vezes quase um mês no exterior, o Presidente da República apelou para "uma governação mais responsável, mais participada ou menos solitária, mas sobretudo mais presente".

"Os ingentes problemas com que o país se debate não são compatíveis com uma governação feita muitas vezes à distância, que descura uma visão estratégica, holística e bem delineada das decisões que se impõe adotar", sublinhou o chefe de Estado, acrescentando que "por muito bons que sejam os marinheiros, nada justifica que o comandante do barco se arrogue o direito de se ausentar deste durante um lapso temporal que excede metade da jornada".

O MLSTP considera que "o próprio primeiro-ministro devia colocar o lugar à disposição" como a única forma de "resolver este problema" face às declarações do chefe de Estado.

O líder parlamentar do MLSTP classificou o discurso do Presidente da República como uma mensagem realista e que "reflete a situação de caos em que o país está" e que Carlos Vila Nova "demonstra claramente que tem um profundo conhecimento" de São Tomé e Príncipe.

"E, ao ter este profundo conhecimento do país, quem ouve o Presidente da República conclui que, infelizmente, a tão propalada solução não existe, o Governo da ADI não tem a solução afinal que prometeu a este povo", acrescentou o porta-voz do MLSTP.

Raúl Cardoso disse que "o MLSTP está muito preocupado" com a situação atual do país "e espera que o Presidente, depois dessas declarações, avance efetivamente para ações concretas, para travar aquilo que é o continuar da situação gravíssima em que São Tomé e Príncipe se encontra".

"O Presidente, ao fazer, estará a fazê-lo para salvar o nosso país, para salvar o nosso povo desta situação que a todos nós nos preocupa enquanto são-tomenses", sublinhou.

No entanto, Raúl Cardoso assegurou que "o MLSTP não tem qualquer pressa do poder", defendendo que a ADI "tem uma maioria absoluta clara" e "tem que governar o resto do tempo que falta", mas "tem que governar com alguma seriedade, com alguma responsabilidade", mas "é isto que não está a acontecer".

O Presidente da República são-tomense convocou uma reunião do Conselho de Estado para hoje à tarde, sendo a primeira do ano, e a segunda desde que assumiu as funções, em 2021.

 

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