Depois de meses de preparação, a Polícia Judiciária (PJ), através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, com o apoio da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefaciente, pôs no terreno, esta terça-feira, a operação “Porthos”.

Sob investigação está a “beneficiação de organizações criminosas dedicadas à exportação de elevadas quantidades de cocaína a partir da América Latina” e que, revela a PJ, usaram “os portos marítimos nacionais como porta de entrada de produtos estupefacientes no continente europeu, dissimulados em diversos produtos acondicionados em contentores”.

Foram detidos “quatro suspeitos”, entre os quais, apurou a SIC, dois funcionários da Autoridade Tributária (AT), “constituídos 15 arguidos e apreendidos mais de meio milhão de euros em numerário, 10 viaturas e cinco armas de fogo e outras”.

A operação, que esteve esta terça-feira no terreno, nomeadamente nos portos marítimos de Lisboa, Setúbal, Sines e em Leiria, “visou a execução de 32 mandados de busca, dos quais 14 domiciliárias e 18 não domiciliárias, para recolha de elementos de prova complementares”.

Mas, salienta a PJ, "a investigação criminal prosseguirá".

Em causa estão suspeitas da prática de crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de estupefacientes e branqueamento de capitais.

Feijão e bananas escondiam a droga

A Judiciária suspeita que a droga chegava a Portugal pelo mar, muitas vezes escondida em contentores de alimentos, como por exemplo, latas de feijão ou caixas de bananas.

A investigação tenta agora perceber como é que estes contentores escapavam à fiscalização.

As autoridades suspeitam que funcionários da Autoridade Tributária (AT) nas alfândegas destes portos marítimos tenham alegadamente deixado entrar no país navios carregados de cocaína em troca de subornos de cartéis colombianos e grandes organizações criminosas internacionais, como o Primeiro Comando da Capital, do Brasil.

A PJ suspeita que esta rede criminosa agora desmantelada nos portos nacionais estará ligada ao PCC - o Primeiro Comando da Capital - , a maior organização criminosa do Brasil e uma das mais perigosas da América Latina.

PCC nasceu numa prisão

A origem do PCC remonta há 32 anos numa prisão de São Paulo, para reagir a supostos abusos do Estado. Nesta altura contará com mais de 40 mil membros.

Mas, na última década, a influência do PCC ultrapassou as fronteiras do Brasil e estendeu-se a pelo menos 23 países, onde foram identificadas celúlas desta rede criminosa.

Em Portugal, as autoridades também sinalizaram a presença de empresários com ligações ao PCC com o objetivo de lavarem o dinheiro do tráfico de droga.

Recorde-se que o combate ao crime organizado e ao terrorismo foi um dos principais temas da recente Cimeira Luso-Brasileira, que aconteceu na semana passada.

[Notícia atualizada às 19:21]