
Num comunicado, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) referiu que, durante esse período, não entraram no enclave palestiniano controlado pelo grupo extremista Hamas alimentos, ajuda humanitária, combustível ou medicamentos.
Das 25 padarias apoiadas pelo PAM, pelo menos seis já tinham fechado, mas hoje encerraram as restantes. A 27 de março, a agência da ONU já tinha alertado que restava apenas farinha de trigo suficiente para cinco dias, utilizada na produção diária de pão para 800 mil pessoas.
"Hoje, as 25 padarias que receberam apoio do PAM durante o cessar-fogo estão encerradas devido à escassez de farinha e à falta de gás para cozinhar. O PAM continua a dar prioridade à distribuição de alimentos com os 'stocks' disponíveis, mas a situação continua a ser extremamente crítica", confirmou, pouco depois, em comunicado.
As autoridades israelitas anunciaram a 02 de março a interdição do fornecimento de bens para Gaza, num bloqueio que já ultrapassou o imposto no início da guerra entre Israel e o Hamas, entre 07 e 21 de outubro de 2023.
Os preços, que tinham estabilizado ligeiramente durante os dois meses de cessar-fogo (iniciado a 19 de janeiro e rompido por Israel no passado mês de março), voltaram a disparar, e já não há produtos básicos como carne ou arroz nos mercados, segundo constatou a EFE.
"Se emigrarmos, será por causa da fome e do bloqueio israelita, porque quem tem filhos não terá outra opção. Caso contrário, dirá: 'Os meus filhos vão morrer de fome'", afirmou um palestiniano, sob anonimato, na cidade de Gaza, no norte do enclave.
Além da falta de farinha, um outro responsável da ONU apontou o regresso dos ataques e a ausência de "garantias de segurança eficazes por parte de Israel" como motivos adicionais para o encerramento imediato das operações do PAM.
Apenas há nove dias, 15 profissionais de saúde e equipas de resgate morreram num ataque israelita em Rafah e foram enterrados numa vala comum, apesar de se deslocarem em ambulâncias e outros veículos devidamente identificados.
O risco enfrentado pelos trabalhadores humanitários ultrapassou "há muito tempo" o limite do "risco aceitável", superando mesmo o princípio do imperativo humanitário. Desde outubro de 2023, pelo menos 408 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza, segundo o OCHA, afirmou à EFE uma fonte sob anonimato.
O COGAT, organismo militar israelita responsável pelos assuntos palestinianos, afirmou que mais de 25 mil camiões entraram em Gaza durante a trégua, transportando perto de 450 mil toneladas de ajuda. Segundo a mesma fonte, este volume representa cerca de um terço de toda a ajuda enviada desde o início da guerra.
"Haverá comida suficiente para um longo período se o Hamas deixar os civis recebê-la", afirmou o COGAT.
As agências da ONU e os grupos de ajuda humanitária afirmam que enfrentaram dificuldades para fazer chegar e distribuir ajuda antes da trégua que entrou em vigor em janeiro.
As estimativas sobre a quantidade de ajuda que efetivamente chegou à população de Gaza foram consistentemente inferiores às anunciadas pelo COGAT, que se baseiam nos volumes registados nas passagens fronteiriças.
Em paralelo com a crise humanitária no terreno, os contactos políticos a nível internacional para encontrar soluções para o enclave continuam.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou hoje ter falado por telefone com o homólogo do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, sobre a situação em Gaza e "possíveis soluções" para o conflito com Israel.
"A minha conversa telefónica com o Presidente egípcio foi muito fluida. Conversámos sobre diversos temas, incluindo o enorme progresso militar que alcançámos contra os huthis, que destroem navios no Iémen. Também falámos sobre Gaza, possíveis soluções, preparação militar, etc", escreveu Trump numa publicação na sua rede social, Truth Social.
A conversa entre os dois Presidentes, sobre a qual Trump não forneceu pormenores, ocorreu duas semanas depois de Israel ter rompido a trégua de dois meses com o Hamas, retomando a ofensiva em Gaza a 18 de março, que já causou mais de mil mortos.
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