O Governo sul-africano não vai retirar nenhum dos cientistas da sua base na Antártida, depois de um dos membros do grupo ter enviado uma mensagem alarmante a revelar que um dos colegas se tinha tornado “mentalmente instável” e “violento”.

Num comunicado enviado ao New York Times na quarta-feira, o ministro do Ambiente da África do Sul informou que “não há registo de incidentes que justifiquem o regresso de nenhum dos nove membros da equipa à Cidade do Cabo”.

“A situação na base está calma e sob controlo”, acrescentou.

O governante revelou ainda que o cientista acusado de agredir um colega e ameaçar outro escreveu “um pedido de desculpas formal” e mostrou “remorsos” pela sua atuação, tendo aceitado ser submetido a uma nova avaliação psicológica.

As equipas que viajam para a Antártida passam por rigorosos processos de avaliação antes de embarcarem na expedição, tal como acontece com os astronautas que vão ao espaço.

São analisadas as “competências técnicas, os aspetos psicológicos, o historial médico e o historial das relações interpessoais” dos potenciais candidatos. Se algum dos parâmetros vier negativo, o candidato é rejeitado, explicou o ministro do Ambiente sul-africano.

“À data da partida para a Antártida [1 de fevereiro], estava tudo em ordem.”

Grupo temia pela vida

No entanto, numa mensagem enviada ao jornal sul-africano Sunday Times há poucos dias, um dos cientistas deste grupo descrevia um ambiente de medo e intimidação, alertando que a situação tinha escalado para um ponto em que a equipa se sentia insegura.

“Lamentavelmente, o comportamento chegou a um ponto que é extremamente perturbador. Ele agrediu [nome cortado] (...) e ameaçou matar [nome cortado].”

“Estou extremamente preocupado pela minha própria segurança e questiono-me constantemente se poderei ser a próxima vítima. (...) É imperativo ação imediata para garantir a segurança de todos.”

Este grupo de investigadores, enviado para a base sul-africana Sanae IV, na Antártida, para estudar o clima, está completamente isolado do mundo exterior. O tempo extremo torna qualquer assistência ou evacuação muito difícil. E a missão deverá durar mais 10 meses.

O investigador Mathieu Morlighem, ouvido pelo New York Times, sublinha que muitas vezes, nestas situações, “é difícil para as vítimas terem oportunidade de reportar situações de má conduta porque não se conseguem afastar dos colegas”, explica.

Então porque é que o Governo sul-africano optou por manter a missão e não decidiu retirar o cientista em questão? A geóloga Dawn Sumner, também ouvida pelo jornal norte-americano, explica que, neste tipo de expedições, todos os membros da equipa são essenciais.

Assim, retirar uma pessoa parece estar fora da equação. E se saíssem todos? Terminar a missão significaria que a base, deixada sem supervisão, “não estaria funcional quando outra equipa regressasse na primavera ou no verão”.

“Seria uma enorme perda de infraestruturas para o programa antártico sul-africano.”

Um alerta do exterior

A geóloga deixa, no entanto, um alerta: o pior ainda poderá estar para vir. É que os meses de inverno na Antártida, sobretudo os de julho e agosto - mais “extremos” -, vão trazer com eles a Noite Polar.

“Eles já estão a ter estes problemas e ainda nem sequer está escuro. É uma situação horrível.”