
A Turquia tem sido palco de tensões políticas e sociais que tiveram como gatilho a detenção do presidente da câmara de Istambul e candidato presidencial Ekrem Imamoglu. Nas últimas duas semanas, centenas de milhares de pessoas saíram à rua para protestar contra a prisão do autarca e contra o Governo turco.
Imamoglu é o principal opositor do Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, e há uma semana foi oficialmente nomeado candidato pelo Partido Republicano do Povo (social-democrata) às próximas eleições presidenciais, previstas para 2028.
O autarca da maior cidade da Turquia foi detido uns dias antes, na quarta-feira, 19 de março, e mantido sob custódia desde então por acusações de corrupção e suborno de poder — que a oposição considera inventadas.
“Este processo judicial aparece de uma forma que não pode ser desligada das circunstâncias políticas internas da Turquia”, começa por dizer José Pedro Teixeira Fernandes, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa.
“Não é mera coincidência. A detenção surgiu numa altura em que estava em marcha a escolha do candidato do Partido Republicano do Povo, que se considera diretamente o herdeiro [do poder]”, acrescenta. “Indicia uma atuação largamente politizada do sistema judicial, que é uma realidade da Turquia instalada já há vários anos.”
O presidente da Câmara de Istambul está no cargo desde 2019 e tem ganhado popularidade enquanto opositor político de Erdoğan. Além de ter sido detido, na última terça-feira a Universidade de Istambul anulou o seu diploma universitário — que se trata de um requisito para a candidatura presidencial.
“Podemos ver claramente aqui uma tentativa de eliminar um rival que parece ter alguma capacidade de vitória pela sua popularidade. Tendo em conta as sondagens, seria o maior trunfo eleitoral da oposição”, analisa ainda o académico.
Este episódio foi conduzido pela jornalista Mara Tribuna e contou com a edição técnica de João Martins. O Mundo a Seus Pés é o podcast semanal da editoria Internacional do Expresso. A condução do debate é rotativa entre os jornalistas Ana França, Hélder Gomes, Mara Tribuna e Pedro Cordeiro. Subscreva e ouça mais episódios.