O presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Sérgio Janeiro, considera que a morte de um doente durante a greve de novembro do ano passado não se deveu a falhas de técnicos específicos, contrariando a posição do Ministério da Saúde que atribui o óbito à “falta de zelo” dos profissionais envolvidos.

Em entrevista ao Público publicada este sábado, 19 de julho, o líder do instituto apela a que se contextualize o sucedido com as “condições muito adversas” de trabalho no dia da paralisação.

O relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), divulgado no final de junho, considera que a morte do homem de 53 anos, residente no concelho de Pombal, “poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável”. O doente, a sofrer enfarte agudo do miocárdio, poderia ter sido encaminhado “através de uma Via Verde Coronária para um dos hospitais mais próximos”.

A interpretação do Ministério da Saúde é a de que não houve relação entre a greve e o óbito. Numa nota emitida após a divulgação do relatório, a tutela atribuiu-o a “comportamentos individuais subsequentes ao atendimento da chamada de emergência” e à “falta de zelo, de cuidado e de diligência” dos dois profissionais que estiveram envolvidos no processo de socorro e que são hoje alvo de processos disciplinares,

Semanas mais tarde, o presidente do INEM diz agora ao Público que “tem de se contextualizar qualquer eventual falha que possa ter havido naquele que foi um dia atípico, em que quem se apresentou ao trabalho o fez com um enorme espírito de sacrifício e trabalhou sob condições muito adversas”.

“É importante voltar a frisar que a abertura destes procedimentos de índole disciplinar não é uma presunção de culpa. Porque, tal como está plasmado no relatório, existiram também atrasos na passagem da chamada, que são alheios ao INEM”, diz Sérgio Janeiro ao jornal.

“E importa relembrar”, continuou, "que os serviços mínimos foram cumpridos na grande maioria do dia. E que foi no cumprimento dos serviços mínimos que os maiores constrangimentos se revelaram".

“Tudo neste dia contribuiu para que o serviço não funcionasse dentro da normalidade. Penso, por isso, que não devemos procurar individualizar uma falha. Elas todas têm de ser apuradas, mas de um ponto de vista construtivo", acrescentou.

O responsável disse ter tido "até agora" (…) todo o apoio" do Ministério da Saúde: “sempre estiveram disponíveis para ouvir as problemáticas relacionadas com o INEM. E saliente-se que, ao longo deste ano, a questão dos helicópteros foi apenas um dos dossiers relacionados com o INEM. O INEM tem vários problemas estruturais que têm impedido que funcione dentro da normalidade e que têm exigido aos seus profissionais um esforço acrescido muito assinalável. Isso tem de ser reconhecido. E o socorro, apesar de todas as dificuldades, tem sido garantido com muita qualidade. ”