A Praça de São Pedro foi-se enchendo durante a tarde de hoje para o último resultado do dia da eleição do Conclave Cardinalício, naquela que é a "espera mais bonita do mundo", segundo o bispo brasileiro Nelson Westropp.

À saída da praça, onde fora orar, o bispo emérito de Santo André comentou os tempos de ansiedade em que vivem os fiéis católicos, olhando para a chaminé da Capela Sistina, à espera de um sucessor do Papa Francisco.

Sobre os oito cardeais brasileiros presentes no Conclave, Westropp disse que todos seriam bons Papas, mas que caberá aos eleitores a "melhor decisão", independente do país de origem.

"Há muitas razões que decidem o voto. Eu não estou lá, por isso rezo", afirmou. E reza por quem? -- perguntaram os jornalistas brasileiros. "É entre mim e Deus", respondeu.

Já na praça, a freira italiana Ângela segurava nas mãos uma pequena brochura com fotos dos "papabilis", os favoritos à eleição.

"Quero ver quem são", disse a senhora de 75 anos, que já assistiu a quatro conclaves, entre os quais o do efémero João Paulo I, que esteve um mês no cargo, antes de ser sucedido por João Paulo II.

"Um Papa bom e bonito", recordou.

Michael é seminarista, veio do Connecticut e está em Roma a estudar, pelo que quer aproveitar todos os momentos para ver 'in loco' o fumo branco da chaminé.

"É um momento único na minha vida e quero aproveitar", disse, vestido a rigor, com o traje tradicional dos alunos mais conservadores, de negro, debruado de renda, impecavelmente engomado.

E será que vai aplaudir o Papa, independente de quem seja escolhido? "Não sei, pode haver algum que não aplauda, mas terei de respeitar", disse o seminarista, que acusou os 'media' de perseguirem algumas figuras da Igreja norte-americana, como o polémico cardeal Leo Burke, de quem se diz admirador.

Burke foi afastado de funções na Cúria Romana por Francisco e, desde então, tem criticado algumas das propostas mais progressistas do Papa que morreu em 21 de abril, como o debate interno na Igreja, denominado Processo Sinodal.

"A Igreja somos todos. Clérigos e leigos. Mas, como está na Bíblia, há os pastores e as ovelhas. É um rebanho e não são todos iguais", disse Michael.

Sergii é ucraniano e tem sempre presa na mochila a bandeira do seu país. Mais do que a eleição de um Papa do seu país, que é também o mais jovem eleitor presente no Conclave - Mykola Bychok, de 45 anos -, Sergii quer um Papa que se imponha face a Putin.

"Precisamos de paz, queremos a paz na Ucrânia. Mas não pode ser como ele [Putin] quer. E por isso rezo por um Papa que ponha a Ucrânia do centro das suas preocupações e obrigue Putin a recuar e a aceitar uma paz justa", explicou, com a cara vermelha perante o sol que se sente na Praça.

Apesar do sol, todos levantam as caras em direção à chaminé, fotografam, filmam ou fazem 'selfies' procurando o melhor ângulo para ver o local por onde o mundo saberá que o novo Papa está escolhido.

Durante a manhã, saiu fumo negro da chaminé, sinal que as duas votações não foram frutíferas.

Durante a tarde, decorrem mais duas votações e, caso seja escolhido o Papa na primeira destas, sairá fumo branco. Caso contrário, o fumo será expelido apenas ao final da tarde, pelas 19:00 locais (18:00 em Lisboa).

Ao fim de três dias de votação sem uma maioria de dois terços, os cardeais suspendem a votação durante um dia, que será no sábado.

Vários analistas indicam que se, nestes primeiros dias de votações não for eleito um novo Papa, é sinal que os favoritos não conseguiram obter uma maioria qualificada e, a partir daí, a corrida está mais em aberto.