
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou na terça-feira que capturou cidadãos chineses que lutam pela Rússia, com Moscovo e Kiev a acusarem-se mutuamente de usar soldados estrangeiros desde o início da invasão russa.
Já na quarta-feira, o líder ucraniano alegou que a Ucrânia identificou 155 cidadãos da China e referiu-se a recrutamentos através de anúncios nas redes sociais chinesas.
Pequim rejeitou as acusações ocidentais de que presta apoio militar a Moscovo, ao mesmo tempo que recomendou aos seus cidadãos que se mantenham longe dos combates, e o Kremlin disse que as informações de Zelensky "estão erradas".
Kiev também emprega militares estrangeiros, mas é mais transparente e até criou brigadas especializadas dentro do seu Exército.
Estas são as informações que agência France Presse recolheu sobre a presença destes combatentes no campo de batalha na Ucrânia.
Desde quando combatem?
A 27 de fevereiro de 2022, três dias após o início da invasão russa, Volodymyr Zelensky convocou "todos os cidadãos de países estrangeiros que são amigos da Ucrânia" para combater as forças de Moscovo.
O Exército ucraniano criou então, no início de março de 2022, a "Legião Internacional para a Defesa da Ucrânia". O Kremlin nunca fez um apelo semelhante, mas as alegações da presença de soldados estrangeiros a combater por Moscovo também começaram a surgir nos primeiros meses da invasão.
De que países vêm?
Muitas nacionalidades estão presentes na frente de combate. Nos primeiros meses da guerra, os serviços de informações militares ucranianos (GUR) estimaram o número de voluntários de 52 países diferentes em mais de 20 mil.
No terreno, do lado ucraniano, a AFP encontrou combatentes colombianos, norte-americanos, japoneses, franceses, irlandeses, russos e bielorrussos, entre outras nacionalidades, existindo também vários relatos da presença de portugueses.
Do lado russo, combatentes de Cuba, Nepal, Índia, Serra Leoa e Somália participaram na invasão, de acordo com depoimentos de prisioneiros de guerra capturados pelas tropas de Kiev ou dos seus familiares. Várias centenas de cidadãos das antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central foram também recrutados por Moscovo, segundo os meios de comunicação locais.
No outono de 2024, Kiev e os seus aliados alegaram que milhares de tropas norte-coreanas tinham sido enviadas para o campo de batalha na província russa de Kursk, mas Moscovo e Pyongyang nunca confirmaram.
Quanto ganham estes combatentes?
Para a Ucrânia, de acordo com o website de recrutamento da Legião Internacional de Defesa da Ucrânia, a remuneração corresponde ao "salário padrão de um soldado ucraniano". O valor varia entre os 550 dólares (405 euros) por mês para posições distantes da linha da frente e os 4.800 dólares (4.300 euros) por mês para missões de combate, sem incluir possíveis bónus.
Em relação às tropas que combatem por Moscovo, o grupo paramilitar Wagner, antes da revolta do seu líder Yevgeny Prigozhin, em junho de 2023, e da sua posterior conversão pelo Ministério da Defesa russo, também oferecia salários muito atrativos.
No início de 2024, a AFP viu ainda vídeos na Índia a promover empregos de "apoio ao Exército" russo, prometendo até 3.600 dólares (2.965 euros) por mês.
Onde estão destacados?
A Legião Internacional de Defesa da Ucrânia disse ter participado na batalha de Bakhmut, uma das mais ferozes desde o início da invasão e que custou milhares de vidas dos dois lados.
De acordo com Kiev, Moscovo, por sua vez, enviou a maior parte das suas tropas estrangeiras - milhares de soldados norte-coreanos - para Kursk, para repelir as tropas ucranianas que lançaram uma ofensiva na região fronteiriça russa a partir de agosto de 2024.
São "mercenários" ou "voluntários"?
Desde 2022, a Rússia, onde a atividade de "mercenarismo" é severamente punida pelo código penal, apesar de ter vários grupos paramilitares próprios, tem condenado repetidamente estrangeiros que lutam no Exército ucraniano, considerando-os "mercenários" e não voluntários.
Moscovo acusa geralmente estes combatentes de serem atraídos apenas por ganhos financeiros ou "neonazismo" e acusa o Exército ucraniano de acolher unidades pertencentes a esta ideologia.
Na Ucrânia, a AFP encontrou-se repetidamente com soldados que se descreviam como "voluntários" a lutar por razões políticas: russos que se opunham ao Presidente russo, Vladimir Putin, bielorrussos que lutavam contra o regime de Alexander Lukashenko, que é aliado de Moscovo, e franceses que temiam que o conflito se alastrasse à Europa.
A AFP entrevistou ainda famílias de soldados colombianos que foram combater para a Ucrânia para ganhar 3 mil dólares por mês, quase dez vezes o salário de um soldado colombiano, e também para escapar de bairros controlados por gangues.