O primeiro-ministro português condenou esta quarta-feira "qualquer intervenção, propósito ou intenção de haver uma limpeza étnica" na Faixa de Gaza, mas rejeitou retirar "conclusões precipitadas" das declarações do Presidente dos Estados Unidos da América.

O chefe do executivo respondia à coordenadora do BE, Mariana Mortágua, no debate quinzenal no parlamento, que interrogou Luís Montenegro sobre o plano do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, para a Faixa de Gaza, que prevê a retirada dos palestinianos daquele enclave.

Mariana Mortágua quis saber se o primeiro-ministro concordava com o ministro da Defesa, Nuno Melo, que esta quarta-feira de manhã afirmou que "não lhe compete comentar" política interna norte-americana, acrescentando que estavam em causa "singularidades da política norte-americana que por estes dias vai sendo, a esse propósito, muito rica e animando noticiários".

Montenegro começou por responder que a posição do Governo português sobre esta matéria "foi sempre muito clara", e que o executivo mantém a defesa da solução dos dois estados, o de Israel e o da Palestina.

"Quanto a ser complacente com qualquer episódio, intenção de limpeza étnica, obviamente que o Governo português jamais o fará. Jamais. E não há dúvidas quanto a isso. O que nós não tiramos é conclusões precipitadas de algumas intervenções, mesmo que de pessoas com grande responsabilidade", realçou Montenegro, referindo-se às declarações de Donald Trump.

O primeiro-ministro argumentou que "um Estado não pode, não deve" precipitar-se "na análise da situação internacional e das intervenções de alguns chefes do Governo e do Estado", discordando da linguagem utilizada pela bloquista.

Na réplica, Mariana Mortágua respondeu que a sua linguagem "é a mesma das Nações Unidas e do Tribunal Penal Internacional" e defendeu que o direito internacional está do seu lado.

A coordenadora do BE insistiu de novo na pergunta: "Condena as declarações do Presidente dos Estados Unidos da América?".

"Condeno qualquer intervenção, propósito e intenção de haver uma limpeza étnica", respondeu Luís Montenegro, com Mariana Mortágua a retorquir: "É um passo, senhor primeiro-ministro, a seguir vai ter que reconhecer que o que está em causa é uma limpeza étnica".

As polémicas declarações de Donald Trump

O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, disse em conferência de imprensa na terça-feira que quer que os Estados Unidos assumam o controlo da Faixa de Gaza e reconstruam o território, depois de os palestinianos serem reinstalados noutros locais.

Após o encontro com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca, Trump não excluiu a possibilidade de enviar tropas norte-americanas para apoiar a reconstrução de Gaza e considera que a participação dos EUA será de "longo prazo".