De acordo com a organização, não faz mal que não os entreguem hoje, desde que estejam a trabalhar neles, porque se trata, segundo o responsável das Nações Unidas pelo clima, de "um dos mais importantes documentos políticos que os Governos produzirão este século".

Até agora, só 12 dos 195 países que assinaram o Acordo de Paris sobre o Clima, alcançado em 2015, apresentaram os respetivos planos nacionais para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa até 2035.

Esses países representam apenas 16,2% das emissões mundiais de dióxido de carbono - o principal gás com efeito de estufa -, uma percentagem quase igual à que provém dos Estados Unidos, onde o atual Presidente, o republicano Donald Trump, já descartou o plano apresentado pelo Governo do seu antecessor, o democrata Joe Biden.

Além dos Estados Unidos, os únicos grandes emissores a apresentar objetivos para 2035 foram o Brasil, o Reino Unido e os Emirados Árabes Unidos.

Também as Ilhas Marshall, Singapura, Equador, Santa Lúcia, Andorra, Nova Zelândia, Suíça e Uruguai apresentaram os seus planos, mas todos eles produzem menos de 0,2% do dióxido de carbono mundial.

O secretário do Clima da ONU, Simon Stiell, afirmou que mais de 170 países informaram o seu gabinete de que estão a trabalhar nos seus planos nacionais, razão pela qual disse não estar preocupado, sublinhando que a qualidade é mais importante que o cumprimento do prazo.

"Faz sentido que se leve um pouco mais de tempo para garantir que esses planos serão de primeira qualidade", declarou Stiell na semana passada, num discurso político proferido no Brasil, acrescentando que "serão os planos climáticos mais abrangentes alguma vez elaborados".

A diretora política da organização sem fins lucrativos Climate Group, Champa Patel, não foi tão apaziguadora.

"É preocupante que os países não estejam a conseguir responder à emergência do momento", observou Patel, sublinhando que "o mundo não pode permitir-se a inação".

Estes planos - oficialmente designados como Contributos Nacionalmente Definidos (NDC, na sigla em inglês) - são o principal mecanismo do histórico acordo internacional.

De cinco em cinco anos, os países devem apresentar planos quinquenais novos e mais sólidos que descrevam os seus planos voluntários para limitar ou reduzir as emissões de gases com efeito de estufa resultantes da queima de carvão, petróleo e gás natural.

As mais recentes versões devem ser compatíveis com o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a longo prazo a 1,5 graus celsius (ºC) acima da era pré-industrial.

De acordo com a ONU, o mundo aqueceu 1,3 ºC desde o final do século XIX e está bem encaminhado para aquecer mais 1,8 ºC, o que perfaz um total de 3,1 ºC.

Os cientistas afirmam que o aquecimento da atmosfera está a provocar fenómenos meteorológicos cada vez mais extremos, incluindo inundações, secas, furacões, vagas de calor e incêndios florestais que todos os anos matam pessoas e causam prejuízos de milhares de milhões de euros.

Os novos objetivos deverão também abranger todos os gases com efeito de estufa: dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hidrofluorocarbonetos, perfluorocarbonetos e hexafluoreto de enxofre. Deverão abranger toda a economia e não apenas o setor da energia, segundo um acordo de 2023.

O Climate Action Tracker - um grupo de cientistas e outros especialistas que analisam os planos climáticos dos países em matéria de emissões domésticas - concluiu que quatro dos seis objetivos de NDC que analisaram até agora obtiveram um "quase suficiente" quanto ao objetivo de manter o aumento da temperatura atmosférica em até 2 ºC.

A Suíça obteve um insuficiente, tendo o grupo afirmado que o seu plano era mais compatível com 3 graus de aquecimento; O plano do Reino Unido foi considerado compatível com 1,5 ºC de aquecimento.

O plano do Reino Unido visa reduzir as emissões em pelo menos 81% até 2035, em comparação com as emissões de 1990, referindo os esforços para eliminar gradualmente os novos automóveis de combustão interna - que utilizam apenas gasolina e gasóleo - até 2030.

O Brasil, no seu plano, apresentou uma gama de reduções de emissões de 59% a 67% até 2035, em comparação com as emissões de 2005, pondo forte ênfase na justiça climática e mencionando repetidamente os esforços de combate à desflorestação.

A maioria das iniciativas destes países foi classificada como insuficiente, quando se comparou o que planeiam fazer com o que estão efetivamente a fazer e com a sua "quota-parte justa", tendo em conta os seus recursos e história. Isso também se aplicava aos Estados Unidos, onde uma das primeiras medidas do segundo mandato presidencial de Trump foi, em janeiro deste ano, retirar o país do Acordo de Paris.

"Já sabemos agora que o que quer que os [outros] países façam, não é suficiente", disse hoje o cofundador da Climate Action Tracker, Niklas Hohne, citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).

"Todos eles terão de fazer mais", defendeu.

O prazo - definido no Acordo de Paris para ser nove meses antes das próximas negociações internacionais sobre o clima, este ano em Belém, no Brasil - é 23:59 na Alemanha (22:59 de Lisboa), onde fica o departamento climático da ONU.

Mas, segundo Stiell, o verdadeiro prazo é em setembro, porque é nessa altura que as Nações Unidas vão avaliar todos os planos e calcular a quantidade de emissões que serão reduzidas e a quantidade de aquecimento futuro que será evitado se os países fizerem o que prometem, observando que "é um grande 'se'".

A União Europeia e a China deverão ter os respetivos planos concluídos em meados do ano, e a Índia só apresentará o seu objetivo depois de outras grandes nações emissoras o fazerem, indicou o cofundador da Climate Action Tracker.

ANC // JMR

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