
Uma pandemia de lianas está a devastar as florestas tropicais, a reduzir a sua capacidade de armazenar carbono e a limitar o seu papel na mitigação das alterações climáticas, de acordo com dois estudos da Universidade de Leiden, nos Países Baixos.
As florestas tropicais absorvem anualmente quase tanto dióxido de carbono como o emitido por toda a Europa. São também o lar de cerca de metade da biodiversidade mundial.
No entanto, o seu contributo para a regulação do clima e da vida selvagem está a ser ameaçado, não só pela desflorestação, mas também por um crescimento descontrolado de lianas – plantas trepadeiras como a flor-da-paixão e muitas outras espécies tropicais.
Como as lianas sufocam a floresta
Segundo o ecologista Marco Visser, do Centro de Ciências Ambientais (CML) da Universidade de Leiden, “as lianas podem sufocar e matar árvores”.
Crescem agarradas aos troncos, competem por recursos e aproveitam-se da estrutura das árvores para subir rapidamente até à copa.
“Quando dominam, a floresta sufoca e as lianas continuam a crescer principalmente em árvores caídas”.
Marco Visser foi o primeiro a modelar o comportamento das lianas como se fossem doenças infecciosas, no âmbito da sua investigação de doutoramento em 2016.
Estas plantas parasitárias podem ser comparadas às ténias: “intercetam” a água e os nutrientes das árvores duplicando a sua taxa de mortalidade.
Uma pandemia silenciosa que alastra
Manuela Rueda-Trujillo, doutoranda supervisionada por Visser, analisou centenas de estudos sobre lianas. O artigo que assina, publicado em 2024 na revista Global Change Biology, mostra que o fenómeno não se limita à América Latina, como se pensava, mas está a acontecer em todas as regiões com florestas tropicais.
“Uma pandemia de lianas tem vindo a devastar a região há mais de 30 anos, com a sua prevalência a aumentar entre 10% e 24% a cada década”, apontou Visser.
As lianas podem impedir por completo o crescimento de árvores em certas áreas, travando a regeneração natural da floresta e reduzindo em até 95% a capacidade de armazenamento de carbono.
“Isto é quase equivalente à desflorestação”, alertou o investigador.
Porque beneficiam tanto as lianas?
Os investigadores atribuem este fenómeno ao aumento dos níveis de CO2 na atmosfera. Embora todas as plantas cresçam mais depressa com mais dióxido de carbono, as lianas tiram ainda mais partido disso.
Como não precisam de investir energia em criar troncos fortes - usam os das árvores como apoio - e produzem folhas com menor exigência energética e nutricional, tornam-se extremamente eficientes.
Uma liana pode subir rapidamente até ao topo da copa e cobrir as árvores com uma densa folhagem, bloqueando quase toda a luz solar.
Visíveis do espaço
Em abril de 2025, Visser publicou um novo estudo na revista Ecology, em colaboração com investigadores dos EUA e Reino Unido, onde explica porque é que estas plantas são visíveis do espaço.
As folhas das lianas refletem mais luz e radiação infravermelha do que as das árvores e são mais planas, o que facilita a sua deteção por satélite.
“As lianas são realmente egoístas”, resumiu Visser.
Ao contrário das árvores, que deixam cair as folhas e deixam passar alguma luz às plantas vizinhas mais baixas, as lianas retêm a luz quase toda para si.
Cortar ou não cortar?
Apesar do impacto negativo, Visser alerta para a importância de não agir precipitadamente:
“Não devemos intervir enquanto não compreendermos completamente a sua função ecológica. Dão frutos durante todo o ano e são vitais para espécies raras de macacos e aves”.
"Agora que compreendemos porque é que as lianas são detetáveis do espaço, podemos desenvolver técnicas específicas para mapear a sua disseminação e impacto a nível global".
A única ação necessária, referiu o investigador, é travar as alterações climáticas, o que também abrandará a expansão das lianas.