Numa conferência de imprensa, hoje em Amã, o ministro Ayman al Safadi defendeu a criação de um estado palestiniano, com base na solução de dois estados, e rejeitou a proposta de Donald Trump, que no sábado disse aos jornalistas, a bordo do avião presidencial, que as nações árabes deveriam receber mais refugiados da Faixa de Gaza, retirando potencialmente uma parte suficiente da população para "simplesmente limpar" o território.

No sábado, Trump disse aos jornalistas que mencionou o plano num telefonema com o rei Abdullah II da Jordânia e que falaria hoje com o Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sissi.

"A nossa posição sobre a solução de dois estados é firme, nunca muda. A nossa rejeição da expulsão (dos palestinianos) é firme, nunca muda", afirmou hoje o ministro jordano dos Negócios Estrangeiros.

O chefe da diplomacia da Jordânia referiu que o país "nunca se desviará" desta posição, que considera necessária para "alcançar a estabilidade, a segurança e a Paz" naquela região.

"Esperamos trabalhar com a governação norte-americana. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou com clareza que procura alcançar a paz na região. Estamos de acordo com ele nisso", disse, sobre o fim do conflito.

No entanto, para que seja alcançada a paz naquela zona, é preciso "aceitar os povos, reconhecer os seus direitos e, sobretudo o do povo palestiniano de viver com liberdade e dignidade no seu território".

Outro dos países árabes que Trump espera que receba mais refugiados palestinianos, o Egito, reagiu à proposta do governante norte-americano através da embaixada nos Estados Unidos.

"O Egito não pode ser parte de nenhuma solução que envolva a transferência de palestinianos para [a província egípcia de] Sinai", lê-se numa publicação de hoje na rede social X, na página oficial da embaixada.

A publicação remete para um texto de opinião do embaixador egípcio nos Estados Unidos, Motaz Zahran, publicada em outubro de 2023 na publicação norte-americana The Hill.

No artigo, o embaixador defende, por exemplo, que "despojar cidadãos da sua terra natal e torná-los refugiados perpétuos não faz aproximar de uma solução política permanente, em vez disso repele e alimenta sentimentos atormentados de angústia e reações sob a forma de violência por vingança".

Também o Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmud Abbas, reagiu hoje à proposta de Donald Trump, garantindo que os palestinianos não deixarão o território.

"Enfatizamos que o povo palestiniano nunca abandonará a sua terra nem os seus lugares sagrados, e não permitiremos que se repitam as catástrofes ('a Nakba') de 1948 e 1967. O nosso povo permanecerá firme e não abandonará a sua pátria", lê-se num comunicado da presidência palestiniana, divulgado pela agência de notícias oficial palestiniana Wafa.

Além disso, Mahmud Abbas defendeu que as insinuações de Trump são "uma violação das linhas vermelhas" e reiterou a rejeição de qualquer política ou ação que vise minar a unidade da Palestina, incluindo a Faixa de Gaza, a Cisjordânia ocupada e Jerusalém Oriental.

Mahmud Abbas instou antes Trump a concentrar-se em manter e consolidar o cessar-fogo em Gaza, que entrou em vigor em 19 de janeiro, em garantir a retirada total do exército de Israel e em permitir que a Autoridade Nacional Palestiniana se responsabilize por uma Gaza pós-guerra "num estado palestiniano independente".

Em 05 de dezembro, o ministro da Segurança Nacional de Israel, o ultranacionalista Itamar Ben Gvir, anunciou que apresentaria a Trump um plano para promover a entrada de judeus colonos e a emigração da população palestiniana de Gaza.

Numa entrevista publicada pelo jornal Maariv, o segundo mais lido em Israel, Ben Gvir, que vive num colonato israelita no território palestiniano da Cisjordânia, garantiu que o apoio de Trump seria uma decisão "lógica" e "moral".

"Também será bom para os residentes de Gaza que emigram, voluntariamente, é claro", disse o ministro.

Durante o seu primeiro mandato (2017-2021), o atual Presidente dos Estados Unidos apresentou um plano que previa a anexação por parte de Israel de quase 30% da Cisjordânia ocupada.

Também no sábado, Trump pôs fim a restrições, impostas pelo anterior chefe de Estado, Joe Biden, sobre o envio de bombas com peso de duas mil libras (907 quilos) para Israel.

Israel e o Hamas acordaram em 19 de janeiro um cessar-fogo de seis semanas, durante o qual deverá haver uma troca gradual de 33 reféns israelitas em troca de mais de 1.900 prisioneiros palestinianos.

O cessar-fogo, que entrou em vigor no domingo passado, após 15 meses de intensificação do conflito que dura desde 1948, foi conseguido com a moderação do Qatar e dos Estados Unidos com o objetivo de pôr fim à guerra mais mortífera e destrutiva alguma vez travada entre Israel e o Hamas.

Durante estas seis semanas decorrerão também negociações para uma segunda fase da trégua, na qual deverá estar concluída a libertação de todos os reféns israelitas em Gaza e lançadas as bases para o fim da guerra.

JRS (VQ/RJP/JSD) // TDI

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