A partir do espaço e da Terra, dois instrumentos de ponta captaram recentemente imagens do Sol com um nível de detalhe sem precedentes. Estas observações ocorrem durante o pico do ciclo de atividade solar e fornecem dados cruciais para a compreensão e previsão de fenómenos solares que podem afetar a Terra.

A missão Solar Orbiter da ESA e NASA obteve a imagem mais abrangente e detalhada da atmosfera solar, enquanto o Telescópio Solar Daniel K. Inouye no Havai revelou uma mancha solar com resolução de 10 km por pixel.

O olhar europeu: Solar Orbiter capta imagem mais ampla e detalhada do Sol

Cinco anos após o seu lançamento, a missão Solar Orbiter, fruto da colaboração entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a NASA, volta a surpreender ao captar a imagem mais abrangente e com maior resolução da atmosfera solar, a coroa.

A imagem, composta por 200 fotografias individuais, mostra o plasma quente da coroa solar - que atinge temperaturas de um milhão de graus - em luz ultravioleta extrema.

SIC Notícias

A imagem foi obtida a 9 de Março de 2025, quando a sonda se encontrava a cerca de 77 milhões de quilómetros do Sol.

Para a captar, o instrumento Extreme Ultraviolet Imager (EUI), liderado pelo Observatório Real da Bélgica, foi orientado para diferentes regiões do Sol num padrão de grelha 5x5.

Em cada posição, registou várias imagens de alta resolução e de grande angular. O resultado é uma visão detalhada dos laços coronais luminosos em torno de regiões ativas e das estruturas mais escuras e frias, como filamentos e proeminências.

Este tipo de observações ajuda os cientistas a compreender melhor a dinâmica do campo magnético solar, que influencia fenómenos como as tempestades solares — explosões de energia capazes de afetar comunicações, redes elétricas e satélites na Terra.

A maior lente solar do mundo na Terra

Do alto do vulcão Haleakalā, no Havai, o Telescópio Solar Daniel K. Inouye, o maior do mundo dedicado ao estudo do Sol, revelou recentemente a sua primeira imagem usando um novo instrumento de alta precisão: o Visible Tunable Filter (VTF).

Um grande plano da superfície do Sol captado pelo Telescópio Solar Daniel K. Inouye mostra atividade magnética em torno de um aglomerado de manchas solares.
Um grande plano da superfície do Sol captado pelo Telescópio Solar Daniel K. Inouye mostra atividade magnética em torno de um aglomerado de manchas solares. VTF/KIS/NSF/NSO/AURA

A imagem mostra uma mancha solar com o tamanho de um continente, registada com uma resolução de 10 quilómetros por pixel — um nível de detalhe sem precedentes da fotosfera solar, a camada visível da nossa estrela.

As manchas solares são regiões de intensa atividade magnética, onde o calor do interior solar é temporariamente bloqueado, resultando numa aparência mais escura. São também locais propícios a erupções solares e ejeções de massa coronal - nuvens de plasma que podem viajar até à Terra, com potenciais impactos em infraestruturas sensíveis.

O VTF funciona como um sintonizador de rádio da luz solar, permitindo observar diferentes camadas da atmosfera solar ao filtrar comprimentos de onda específicos. Isso é conseguido com o uso de duas placas de vidro separadas por micrómetros, que interferem com as ondas de luz e deixam passar apenas determinadas "cores".

Em segundos, o instrumento recolhe centenas de imagens e constrói uma visão tridimensional das diferentes camadas do Sol, possibilitando a análise da temperatura, pressão, velocidade e estrutura do campo magnético.

Telescopio solar Daniel K. Inouye no monte Haleakalā em Maui
Telescopio solar Daniel K. Inouye no monte Haleakalā em Maui NSF/NSO/AURA

Prever com mais eficácia as tempestades solares

Estas novas imagens surgem num momento crítico: o ciclo de atividade solar de 11 anos encontra-se no seu pico, conhecido como máximo solar, durante o qual o número de manchas solares aumenta e os polos magnéticos do Sol se invertem.

Com o VTF a tornar-se totalmente operacional em 2026, e com missões como a Solar Orbiter e a Parker Solar Probe no espaço, os cientistas esperam conseguir prever com mais eficácia as tempestades solares que podem perturbar a tecnologia moderna.

A capacidade de observar em detalhe os processos físicos que ocorrem no Sol é crucial para proteger infraestruturas e compreender o comportamento da estrela que sustenta a vida na Terra.