O Governo preparou um conjunto de medidas "com um volume superior a dez mil milhões de euros" para responder às tarifas aduaneiras aplicadas pelos Estados Unidos, anunciou esta quinta-feira o primeiro-ministro.

Luís Montenegro falava na conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros dedicada às tarifas aduaneiras aplicadas pelos Estados Unidos da América, que se realizou na residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa.

"Portugal está ligado aos Estados Unidos da América por uma sólida amizade e uma intensa relação política e económica (...) Mas, por vezes, é preciso assumi-lo, até com os nossos grandes amigos temos algumas divergências", disse.

O primeiro-ministro defendeu que "a prioridade absoluta passa pela negociação com os Estados Unidos" e assegurou que Portugal está completamente alinhado com as posições tomadas pela Comissão Europeia.

A diversificação de mercados e a concretização rápida do acordo já assinado entre a UE e o Mercosul foram outras das prioridades defendidas pelo primeiro-ministro português, que saudou a pausa de 90 dias nas tarifas anunciada na terça-feira pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“É mesmo o momento de ter adultos na sala”

O primeiro-ministro defende que o quadro de atual incerteza mundial agravado pela crise das tarifas "é mesmo o momento de ter adultos na sala", avisando para a "impreparação e precipitação de alguns agentes nacionais".

Numa declaração sem direito a perguntas, Luís Montenegro defendeu que "não é tempo de aventuras" e que "nunca a estabilidade, a experiência, a prudência e a maturidade política foram tão decisivas".

"Como diz o povo, é mesmo o momento de ter adultos na sala. Sem alarmismos, sem precipitações, estamos preparados e tomaremos as decisões necessárias para lidarmos o melhor possível com esta situação desafiante", afirmou o primeiro-ministro.

A pouco mais de um mês de legislativas antecipadas, Montenegro considerou que o país não pode "acrescentar à incerteza e ao risco externo e internacional a irresponsabilidade, a precipitação e a impreparação de alguns agentes nacionais".

"Os portugueses não esquecem o défice descontrolado e a dívida galopante ou o desemprego elevado, causados por receitas ilusórias que depois impuseram um enorme sacrifício para que fossem ultrapassadas. Por isso, não abdicamos de contas certas, nem vendemos ilusões que amanhã nos possam sair mais caras", frisou.

UE e EUA suspendem tarifas por 90 dias

A União Europeia suspendeu esta quinta-feira a aplicação da primeira ronda de tarifas contra os Estados Unidos. A Comissão Europeia justifica que quer dar espaço - 90 dias - às negociações e se não resultar, então, sim, avançam as contra-medidas, nomeadamente as que foram aprovadas esta quarta-feira.

Na rede social X, Ursula von der Leyen diz que na sequência do anúncio do presidente norte-americano, quer dar uma "oportunidade" às negociações.

"Tomámos nota do anúncio feito pelo Presidente Trump. Queremos dar uma oportunidade às negociações. Enquanto finalizamos a adoção das contramedidas da UE, que receberam um forte apoio dos nossos Estados-Membros, vamos suspendê-las durante 90 dias."

No entanto, Von der Leyen deixa o aviso: “se as negociações não forem satisfatórias, as nossas contramedidas entrarão em vigor. Prosseguem os trabalhos preparatórios sobre novas contramedidas. Como já referi, todas as opções permanecem em cima da mesa.”

Donald Trump anunciou ontem a suspensão de tarifas recíprocas por 90 dias a mais de 75 países.

Apesar de os EUA manterem em vigor parte das tarifas impostas à UE, incluindo sobre os automóveis, a Comissão Europeia entendeu optar pela "pausa" na retaliação do lado europeu, voltando a insistir na negociação, que tem sido a prioridade da UE desde o início.