
O fundador da plataforma de mensagens encriptadas Telegram, Pavel Durov, arguido por suspeitas de cumplicidade em atividades criminosas, deixou este sábado, com autorização judicial, França, em direção ao Dubai, onde está sediada a sua empresa, adiantou a AFP.
O juiz de instrução aceitou há vários dias a alteração da medida de coação e autorizou a saída de França por "várias semanas", de acordo com fontes ouvidas pela AFP.
"Ele [Pavel Durov] saiu de França esta manhã com o acordo" das autoridades, confirmou outra fonte próxima do caso ouvida pela agência de notícias francesa.
Uma terceira fonte adiantou que deixou o país a partir do aeroporto de Bourget, próximo de Paris, no final da manhã de este sábado, em direção ao Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde está sediada a empresa.
Nem os advogados de Durov nem um porta-voz do Telegram em Washington, nos Estados Unidos, estiveram disponíveis para comentar estas informações, adiantou ainda a AFP.
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Em 2024, Pavel Durov foi detido e depois constituído arguido no final de agosto por dois juízes franceses por suspeitas de infrações graves de criminalidade organizada.
De forma genérica, é acusado de não fazer nada para evitar a difusão de conteúdos criminosos através da plataforma Telegram.
Durov foi colocado em liberdade, mas sujeito a medidas de coação, entre os quais o pagamento de uma caução de cinco milhões de euros e apresentações na esquadra duas vezes por semana, assim como a proibição de abandonar território francês.
O fundador da plataforma de mensagens Telegram disse em tribunal que só sob custódia policial teve consciência de todas as acusações contra a sua plataforma.
Em dezembro, perante um tribunal, Pavel Durov rejeitou que tivesse criado o Telegram, com o seu irmão, em 2013, "para criminosos", mas admitiu que a sua presença na plataforma, ainda que, segundo o próprio, seja pequena, "também aumentou".
As declarações de Durov, que nasceu na Rússia e possui várias nacionalidades -- incluindo a francesa -- foram feitas em dezembro, perante juízes de instrução.
Os juízes identificaram cerca de 15 grupos com atividades ligadas à pedofilia, à droga, fraude ou venda de armas, o que levou o presidente da plataforma a ser indiciado por cumplicidade com atividade criminosa no final de agosto.
Durov rejeitou que o Telegram permita mais facilmente que a 'darkweb' (internet obscura) o acesso a plataformas ilegais e argumentou que são eliminadas todos os meses entre 15 e 20 milhões de contas e entre um e dois milhões de canais ou grupos.
O administrador disse estar "pessoalmente revoltado" com estas violações, que considerou "más para a sociedade e para o negócio".
A empresa tem sede no Dubai e anunciou lucros pela primeira vez em dezembro, mas Durov registou que continua com uma dívida de 2.000 milhões de dólares (1.946 milhões de euros).
Pavel Durov acrescentou que a empresa está "empenhada em melhorar" os seus processos de moderação, repetindo as promessas feitas em setembro e que foram saudadas pelo chefe de Estado francês, Emmanuel Macron.
O Telegram tem aumentado a colaboração com as autoridades em França nos últimos meses. No primeiro trimestre de 2024, a plataforma respondeu a quatro pedidos judiciais, um número que cresceu para 673 nos últimos três meses desse ano.
No primeiro semestre, a plataforma cedeu informações para identificação de mais de 10.000 utilizadores a nível global.
Com LUSA