Por estes dias, enquanto se aguarda a ligação do gás e da eletricidade aos novos apartamentos construídos pela câmara num terreno contíguo ao acampamento, num investimento de quatro milhões de euros, a azáfama é grande com o processo de mudanças para as casas novas.

Junto ao prédio, ainda com cheiro a novo, situado junto à variante, já se veem as carrinhas velhas usadas pelos membros da comunidade para transportar os produtos que vendem nas feiras. Agora, a tarefa de todos é mudar os seus parcos haveres para as casas novas.

Não faltam sorrisos entre todos e até as crianças mais novas, nos colos dos pais, percebem que algo de bom está para acontecer.

Dentro de duas semanas, segundo a autarquia local, já deverão estar todos alojados.

"Era uma coisa que estávamos à espera há muito", contou Alice Santos, de 37 anos, enquanto dizia gostar de tudo na casa nova, um apartamento T3 para alojar um casal e seis filhos.

"Isto tem outras condições. Não tem nada a ver", contou à Lusa, comparando com as barracas onde cresceu, desde criança.

Noutra casa, Teresa Valente, de 29 anos, lembrou as "condições horríveis" das barracas, onde até chove nos quartos.

"Isto é um sonho tornado realidade. Estamos todos felizes", exclamou, sorridente, voltando-se para o marido.

À Lusa, disse estar a frequentar uma formação que dá equivalência ao nono ano, após a qual espera arranjar emprego como cuidadora de crianças ou nas limpezas.

De algumas das janelas e varandas dos apartamentos é possível observar, num contraste flagrante, o acampamento, com dezenas de barracas amontoadas, onde têm vivido mais de 80 pessoas.

Nesse sítio, de acessos cheios de buracos, enlameados, com "casas" cobertas com plásticos e envoltas em chapas, encontramos Manuel Sertório, de 58 anos, a pessoa há mais tempo a viver no acampamento.

"Já quase nem consigo dizer há quantos anos", referiu, contando que por ali foi criando 13 filhos, 36 netos e dois bisnetos.

"É outra esperança", comentou, antecipando a vivência no novo apartamento, para o qual já está a transferir algum mobiliário.

A vizinha, Piedade Anjos, de 50 anos, no interior de uma barraca com pouca luz, espera ansiosa a mudança, porque o marido, sentado num banco tosco, está muito doente.

"Isto não tem condições principalmente para ele, as chapas abanam todas com o vento", referiu, apontando para os revestimentos.

"O que a gente quer é sair daqui", reforçou.

O presidente da câmara diz que a resolução das condições precárias em que vivia a comunidade era um desígnio, desde que foi eleito pela primeira vez em 2017.

Alexandre Almeida lamenta haver pessoas no concelho com estigma em relação à comunidade e que deseja que o processo corra mal.

"Nós não estamos a dar casas, estamos a proporcionar acesso à habitação a munícipes que vão pagar uma renda entre os 50 e os 250 euros, consoante os seus rendimentos", precisou.

À Lusa o autarca disse acreditar que os membros da comunidade vão provar que, tendo oportunidades como qualquer outro paredense, "vão cumprir as regras da habitação social, vão pagar as rendas, a luz e a água, como qualquer um".

"Estou convicto que a integração vai ser plena e que haverá, em termos profissionais e de vida em sociedade [para esta comunidade], um antes e um depois de 2025", anotou.

Logo que concluída a transferência das famílias para as casas novas, começará o processo de demolição das barracas, libertando um terreno onde a câmara vai construir um edifício para rendas acessíveis destinado à classe média.

 Armindo Mendes (texto) e José Coelho (fotos), agência Lusa

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