"Relativamente à satisfação com a democracia, cerca de 75% dos cabo-verdianos mostram-se insatisfeitos, ainda que considerem ser o sistema político que melhor serve para o país", afirmou o diretor da Afrosondagem, José Semedo.

O responsável falava na Praia, à margem da apresentação do décimo inquérito sobre qualidade da democracia e governação em Cabo Verde.

O estudo foi realizado entre 27 de agosto e 10 de setembro de 2023, nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santiago e Fogo, abrangendo 96% da população cabo-verdiana.

Os dados refletem a perceção sobre "a forma como os políticos lidam com os cabo-verdianos", informou.

Cerca de 84% dos inquiridos consideraram que os políticos pouco ou nada fazem para ouvir as suas preocupações.

"É uma questão que tem de ser analisada, porque quando falamos da crise da democracia, temos de olhar para os instrumentos disponíveis para ultrapassar os possíveis pontos fracos", defendeu José Semedo.

Segundo o responsável, "os políticos não estão a levar em consideração os dados".

"Quando isso acontece, os resultados tornam-se visíveis: a população continua a acreditar no sistema político do país, mas não nos políticos", apontou.

Quanto às condições económicas, 65% dos cabo-verdianos consideraram que o país está na direção errada.

"Este dado é preocupante" porque pode levar a adiar projetos, a promover a emigração, "reduzir investimentos e a aumentar o desemprego", lamentou o economista António Baptista, que participou na apresentação do estudo.

O levantamento indicou também que 48% enfrenta falta de água em casa, 46% não têm gás de cozinha, 36% não têm acesso a cuidados médicos e 31% passa por períodos sem alimentação.

Em dezembro, a Afrosondagem já tinha divulgado outros estudos que apontavam para uma "queda de confiança" dos cabo-verdianos na Presidência da República e Assembleia Nacional, fazendo uma avaliação negativa do desempenho do Governo e apontando também para um aumento daqueles que pensam em emigrar.

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