Para compreender esta comparação, é crucial olhar para a história do Afeganistão. Após décadas de conflito, que culminaram na invasão dos EUA em 2001, o Afeganistão enfrentou ciclos contínuos de violência, ocupação estrangeira e uma luta pela governação. Estes fatores levaram a um Estado fraturado, com numerosas fações a competir pelo poder, resultando em desafios humanitários significativos e na deslocação em massa de civis.

A Síria, que está envolvida numa guerra civil desde 2011, apresenta algumas semelhanças preocupantes. Os protestos iniciais na Síria, inspirados pela Primavera Árabe, transformaram-se numa guerra multifacetada envolvendo vários intervenientes estatais e não estatais. O regime de Assad, apoiado pela Rússia, tem estado envolvido numa batalha feroz com grupos da oposição, incluindo rebeldes moderados e fações extremistas como o ISIS e a Al-Qaeda. O mapa da Síria foi redesenhado com sangue, com diferentes regiões controladas por vários grupos, fazendo eco da situação no Afeganistão, onde as regiões estão sob a influência de senhores da guerra e insurgentes.

Uma das principais preocupações é o impacto humanitário. No Afeganistão, anos de conflito resultaram em pobreza crónica, insegurança alimentar e crises de saúde pública. Da mesma forma, a Síria assistiu à destruição de infraestruturas, à deslocação de milhões de pessoas e ao surgimento de uma situação humanitária terrível. De acordo com as Nações Unidas, mais de metade da população da Síria necessita de assistência humanitária, uma reminiscência das crises em curso no Afeganistão, onde a ajuda continua a ser difícil de prestar devido a questões de segurança.

Além disso, as ramificações geopolíticas são surpreendentemente semelhantes. Tal como o Afeganistão se tornou um campo de batalha para interesses internacionais concorrentes – nomeadamente os EUA e a União Soviética durante a Guerra Fria – a Síria atraiu uma miríade de potências estrangeiras. A Rússia, o Irão, a Turquia e os Estados Unidos intervieram em capacidades diversas, complicando ainda mais a situação. Esta guerra por procuração criou um cenário fragmentado onde as populações locais são frequentemente apanhadas no fogo cruzado das agendas internacionais, deixando-as vulneráveis e com poucos recursos.

A tomada do poder Sírio pela oposição e a fuga de Bashar Al-Assad para a Rússia

No cenário tumultuoso da Guerra Civil Síria, o destino do Presidente Bashar al-Assad tornou-se um ponto focal de intriga internacional e de manobras geopolíticas. Os acontecimentos recentes indicam uma fuga de Assad para Moscovo, à qual se segue um período de tensão elevada na Síria, marcado por várias derrotas militares e pela diminuição do apoio dos aliados, nomeadamente a Rússia. Ao longo da guerra, a Rússia prestou apoio militar crítico, incluindo ataques aéreos e armamento, ao mesmo tempo que desempenhou um papel diplomático nas negociações destinadas a resolver o conflito. O apoio do Kremlin tem sido fundamental para manter o controlo de Assad no poder. A ideia de Assad procurar asilo na Rússia poderá refletir uma abordagem pragmática para garantir a sua segurança e a preservação do legado do seu regime.

A fuga de Assad não é um movimento totalmente inédito. Historicamente, os líderes que enfrentam o colapso dos seus regimes têm procurado o exílio em nações amigas, onde podem receber proteção e possivelmente restabelecer-se politicamente no futuro. No caso de Assad, um porto seguro na Rússia proporcionar-lhe-ia a segurança necessária e um ponto de vista estratégico a partir do qual orquestraria qualquer potencial regresso ao poder. A Rússia tem todo o interesse em manter Assad em jogo, uma vez que o seu governo lhes oferece uma posição segura na região, incluindo bases militares e acesso a recursos vitais.

O futuro da Síria

A fuga do Presidente deposto poderá também provocar uma reação significativa por parte de fações opostas dentro do próprio país, bem como por parte de intervenientes regionais. Os grupos que se opõem a Assad, encorajados pela narrativa da sua fuga, podem intensificar os seus esforços para minar a sua autoridade. Além disso, outras nações da região, como a Turquia e a Arábia Saudita, poderão encarar este cenário como uma oportunidade para explorar o aparente vazio de poder que poderá seguir-se à saída de Assad. O potencial ressurgimento do ISIS e de outros grupos extremistas – como a Al-Qaeda - no meio da agitação em curso poderá também representar uma séria ameaça à estabilidade regional.