Os Estados Unidos condenaram na terça-feira o "sequestro" em Caracas de Rafael Tudares, genro do líder da oposição venezuelana Edmundo González Urrutia, e qualificaram-no como um ato de "intimidação" por parte do Governo de Nicolás Maduro.

"Condenamos as tentativas de Maduro e dos seus representantes de intimidar a oposição democrática da Venezuela. A repressão e a intimidação não podem ocultar a verdade", assinalou o Departamento de Estado nas redes sociais.

O Governo de Joe Biden referia-se assim à denúncia feita por Edmundo González, segundo a qual o seu genro foi "sequestrado" na capital venezuelana quando levava os filhos à escola.

"Hoje de manhã, o meu genro Rafael Tudares foi sequestrado. Rafael ia a caminho da escola dos meus netos de 7 e 6 anos, em Caracas, para os deixar para o início das aulas, e foi intercetado por homens encapuzados e vestidos de preto, que o meteram numa carrinha dourada, de matrícula AA54E2C, e o levaram", denunciou o político e dirigente da oposição venezuelana numa mensagem publicada rede social X.

Edmundo González fez a denúncia a partir de Washington, uma das paragens da sua viagem pela América para recolher apoio internacional para a tomada de posse presidencial na Venezuela, marcada para 10 de janeiro.

Eleições no país ocorreram em julho e ainda não foram divulgadas as atas do sufrágio

O líder da oposição, que afirma ter vencido claramente as eleições de 28 de julho, reuniu-se nos Estados Unidos com o Presidente do país, Joe Biden, o líder da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, e legisladores de ambos os partidos.

Ao saber do desaparecimento do genro de Edmundo González, a equipa do político venezuelano anunciou que cancelaria a restante da agenda em Washington e que a delegação partirá ainda hoje para o Panamá.

A equipa de González não confirmou se estava prevista uma reunião com o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que tomará posse no dia 20 de janeiro.

Também o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, declarou hoje, através do seu porta-voz, que espera que na Venezuela "não haja mais repressão nos próximos dias, especialmente esta semana".

Na próxima sexta-feira está marcada a investidura de Nicolás Maduro para um novo mandato, mas o líder da oposição garantiu que comparecerá em Caracas para ser o único a tomar posse como Presidente.

Na sua conferência de imprensa diária, o porta-voz do secretariado da ONU, Stéphane Dujarric, observou que Guterres "está obviamente preocupado com os relatos que continuam a chegar, de uma ofensiva contra os direitos humanos na Venezuela, incluindo a detenção de figuras da oposição e defensores dos direitos humanos".

Mas questionado se a ONU reconhece os resultados das eleições e se a Presidência legítima corresponde a Maduro ou Edmundo González, Dujarric especificou: "Não temos mandado para avaliar a legitimidade ou a validade dos resultados".

Lembrou, no entanto, que em novembro "o secretário-geral pediu a recontagem completa (dos registos eleitorais) e não foi o único a fazê-lo. (...) A nossa posição não mudou desde então porque os factos não mudaram", disse Dujarric, referindo-se ao facto de que as autoridades venezuelanas nunca tornaram públicas as atas eleitorais totais.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Nicolás Maduro no escrutínio presidencial, com pouco mais de 51% dos votos. A oposição afirma que o seu candidato, Edmundo González Urrutia, que se exilou em Espanha, obteve quase 70% dos votos.

Além da oposição venezuelana, vários países denunciaram a existência de fraude eleitoral e têm exigido que o CNE apresente as atas de votação para uma verificação independente.

Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos. O CNE da Venezuela ainda não divulgou as atas do sufrágio.