De acordo com a organização, que aponta para 200 mil pessoas nas ruas, a manifestação que se concentrou junto ao Bundestag, o parlamento alemão, desfilou depois em direção à sede do partido conservador CDU, que esta semana protagonizou no parlamento uma aproximação sem precedentes à extrema-direita (AfD), ao admitir uma aliança na política de imigração.

A manifestação acontece a três semanas das eleições legislativas na Alemanha.

Um primeiro balanço da polícia, que mobilizou 500 agentes para garantir a segurança do protesto, dava conta, ao início da tarde, cerca das 14:45, hora de Lisboa, da presença de cerca de 20 mil pessoas em protesto, mas já admitindo que o número poderia aumentar significativamente face aos fluxos de pessoas que estavam a caminho do local.

"Shame on you CDU" (Que vergonha, CDU) ou "Merz sem coração" (em referência ao líder da CDU, Friedrich Merz), são palavras de ordem escritas em cartazes empunhados pelos manifestantes, na contestação à decisão desta semana dos conservadores democratas-cristãos de se aliarem no partido de extrema-direita AfD com o objetivo de tentar passar no parlamento um diploma para limitar a imigração.

Essa aliança parlamentar desfez um tabu político no país, onde desde o fim da II Guerra Mundial os partidos tradicionais recusam qualquer colaboração a nível nacional com a extrema-direita, mantendo o que qualificam de "cordão sanitário".

Friedrich Merz "quer romper o cordão sanitário contra os extremistas de direita", denunciou a ONG de esquerda Compact, que convocou a manifestação de hoje em Berlim.

No sábado, já mais de 220 mil pessoas se tinham manifestado em várias grandes cidades do país, como Hamburgo, Leipzig, Colónia ou Estugarda, de acordo com números recolhidos pelo canal de televisão público alemão ARD.

O projeto de lei dos conservadores da CDU, que pretendia uma política de migração mais apertada, foi chumbado na sexta-feira no parlamento alemão com 350 votos contra, depois de um debate aceso entre os partidos.

A votação aconteceu dois dias depois da moção apresentada pela CDU, não vinculativa, ter sido apoiada pela maioria, contando com os votos a favor da extrema-direita e dos liberais. Seguiram-se vários protestos que têm vindo a subir de tom.

A proposta de Merz assentava em cinco pontos que incluíam a proibição de imigrantes sem documentos válidos e o controlo permanente em todas as fronteiras da Alemanha.

Na quinta-feira, manifestantes juntaram-se em mais de 50 cidades alemãs, com cerca de 13 mil pessoas a concentrarem-se em frente à sede da CDU, em Berlim, que chegou a ser evacuada. Também a antiga chanceler, Angela Merkel, quebrou o silêncio para distanciar-se da decisão dos conservadores.

Na origem do tema, e da moção de confiança da CDU que consistia em cinco pontos, estão vários atos de violência recentes envolvendo estrangeiros.

Entre eles, um esfaqueamento em Aschaffenburg, na semana passada, um ataque num mercado de Natal em Magdeburg, que matou seis pessoas em dezembro de 2024, e um outro esfaqueamento em Solingen, no verão também de 2024, em que morreram três pessoas. Estes incidentes violentos têm acentuado a discussão sobre o tema das migrações.

As sondagens para as eleições legislativas antecipadas de 23 de fevereiro atribuem à AfD, um partido nacionalista e anti-imigração, mais de 20% das intenções de voto - o dobro do que obteve nas anteriores eleições, em 2021. É apenas ultrapassada pelos conservadores, aos quais são atribuídas cerca de 30% das intenções de voto no escrutínio.

IMA (JYD/ANC) // SSS

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