"Primeiro é a própria tabela salarial que não é tão justa como tal (...). O enfermeiro, em princípio, no mundo e no país, devia ser um indivíduo que esteja formado no nível superior, esta é a parte mais gritante", declarou Mocha Carlos, da Associação dos Enfermeiros de Moçambique, em Maputo.

Em declarações à margem do dia internacional do enfermeiro, que se assinala hoje, aqueles profissionais voltaram a pedir ao Governo e à comunidade para valorizar a profissão, referindo que esta é essencial para o bem-estar da sociedade e para o desenvolvimento do país.

"O que estamos a contestar aqui é que verificamos situações em que temos técnicos de enfermagem especialistas que no dia-a-dia não são valorizados", disse Mocha Carlos.

Também a bastonária da Ordem dos Enfermeiros de Moçambique, Maria Lourenço, apelou à valorização dos profissionais da classe pelo executivo moçambicano.

"O enfermeiro é aquele que trabalha em condições não muito aceitáveis. Então, há necessidade [de valorizar] e nós estamos a ficar mais ou menos felizes, porque nos últimos dias tem um discurso ao nível do Ministério da Saúde que centraliza no enfermeiro, que na verdade reconhece que este é o advogado do paciente", disse a bastonária, em declarações aos jornalistas, no âmbito do dia do enfermeiro.

O ministro da Saúde de Moçambique voltou a apelar ao diálogo para travar greves no setor da saúde, referindo que o executivo está a trabalhar para assegurar melhores condições de trabalho aos enfermeiros e outros profissionais da saúde.

"Há muitos problemas que já foram ultrapassados e estamos a ultrapassar, principalmente com o diálogo. Nós estamos abertos ao diálogo, porque estou ciente que há desafios no setor, não nego isto, mas em conjunto vamos ultrapassar. Estamos a buscar consensos dentro do setor para resolver o problema da classe", declarou Ussene Isse, também falando aos jornalistas no âmbito do dia do enfermeiro.

 O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, prometeu hoje continuar a investir na melhoria das condições de trabalho e no reconhecimento da carreira dos profissionais de saúde.

 "É nossa convicção que cuidar de quem cuida é investir no capital humano e garantir o alicerce para uma nação mais saudável, produtiva e próspera", lê-se na mensagem de Daniel Chapo.

O setor da saúde, que enfrenta, há três anos, greves e paralisações, em que a Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), abrange cerca de 65.000 profissionais de saúde de diferentes departamentos.

A APSUSM exige que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, face às necessidades - com os fármacos, em alguns casos, a serem adquiridos pelos próprios pacientes -, assim como a compra de camas hospitalares.

Outras reivindicações passam pela resolução da "falta de alimentação", pelo equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartáveis, cuja falta vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso", pelo pagamento de horas extraordinárias, além de exigirem um melhor enquadramento no âmbito da Tabela Salarial Única (TSU).

O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou também, nos últimos dois anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários, convocadas pela Associação Médica de Moçambique (AMM) em exigência às melhorias das condições de trabalho.

O país tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde.

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