O atual Presidente dos EUA, Joe Biden, criticou na terça-feira apoiantes de Donald Trump, ao reagir a um discurso do comício do candidato presidencial republicano, neste fim de semana, com referências racistas. Durante uma conferência organizada pelo grupo de defesa hispânico Voto Latino, Biden respondeu a um comediante no comício de Trump. "O único lixo que vejo a circular por aí são os seus apoiantes. A sua diabolização dos latinos é injusta e antiamericana. É totalmente contrário a tudo o que fizemos, a tudo o que fomos”, proferiu.

O porta-voz da Casa Branca, Andrew Bates, já reagiu à polémica que esta declaração do Presidente provocou, argumentando que Biden “se referiu à retórica odiosa no comício no Madison Square Garden como ‘lixo’”.

Perante a dimensão que a polémica ganhou nas últimas horas, Biden recorreu às redes sociais para esclarecer pessoalmente o que disse. “Referi-me à retórica odiosa sobre Porto Rico vomitada pelo apoiante de Trump no seu comício no Madison Square Garden como lixo — que é a única palavra que consigo pensar para a descrever”, explicou Biden na rede social X.

“A sua demonização dos latinos é pouco escrupulosa. Foi só isso que eu quis dizer. Os comentários nesse comício não refletem quem somos como nação”, acrescentou Biden. A Casa Branca fez ainda alterações à transcrição da entrevista de modo a assinalar que Biden chamou “lixo” às palavras do comediante e não aos apoiantes de Donald Trump.

Harris distancia-se de Biden

Ao referir-se aos apoiantes de Trump como “lixo”, o tom de Biden desalinhou e afastou-se da mensagem que a candidata democrata Kamala Harris, sua vice-presidente, está a tentar apresentar, procurando apelar a uma ampla base de apoio, incluindo eleitores republicanos insatisfeitos.

A candidata presidencial democrata, Kamala Harris, distanciou-se da polémica desencadeada pelo Presidente norte-americano. “Discordo totalmente com qualquer crítica às pessoas com base em quem elas votam”, disse a vice-presidente Harris aos jornalistas na Base Aérea de Andrew, nos arredores da capital norte-americana.

Ainda que Harris tivesse referido que Biden já havia clarificado os seus comentários, a candidata democrata repudiou qualquer discurso que divida a sociedade e reiterou a mensagem de unidade nacional que proferiu no comício eleitoral que reuniu cerca de 50 mil pessoas em frente à Casa Branca.

“No trabalho que faço tento representar todas as pessoas, quer me apoiem ou não, e como Presidente dos Estados Unidos serei a Presidente de todos os norte-americanos, quer tenham votado em mim ou não”, afirmou.

Pouco depois dos comentários de Biden, Harris, num comício em Washington, prometeu de novo ser uma Presidente que uniria o país.

“Prometo ser uma Presidente para todos os americanos”, disse . E voltou a reforçar a ideia no seu X (antigo Twitter). “Ao contrário de Donald Trump, eu não acredito que quem não concorda comigo é o meu inimigo."

Também o candidato democrata a vice-presidente, o governador do Minnesota, Tim Walz, veio dizer que a mensagem de unidade da campanha não foi prejudicada pelas palavras de Biden. Num programa televisivo, Walz defendeu que o Presidente “deixou muito claro que está a falar sobre a retórica”.

Walz acrescentou, num outro programa televisivo, que ele e Harris “deixaram absolutamente claro que querem que todos façam parte deste país”. “A retórica divisiva de Donald Trump é o que tem de acabar”, concluiu Walz.

Trump defende os seus apoiantes e ataca o “corrupto Joe” e a “mentirosa Kamala”

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, insistiu esta noite em refutar as críticas do atual Presidente, Joe Biden, afirmando que os seus seguidores são superiores aos do democrata.

“O Joe disse finalmente o que realmente pensa dos nossos seguidores. Chamou-lhes lixo. E pensa-o embora, sem dúvida, os meus seguidores sejam de qualidade muito superior aos do corrupto Joe ou da mentirosa Kamala”, disse Trump, num comício em Rocky Mount, no Estado-chave da Carolina do Norte.

“Os comentários de Biden foram um resultado direto da sua decisão de retratar todos os que não votam neles como maus ou sub-humanos. Tratou-os como lixo. Sabem a verdade? Eles trataram todo o nosso país como lixo, de propósito ou não, porque são pessoas extremamente incompetentes”, disse Trump na quarta-feira.

Os republicanos têm aproveitado politicamente a polémica à volta das palavras de Biden.

Num comício republicano na Pensilvânia, o senador Marco Rubio, reagiu com fortes críticas ao Presidente. “Joe Biden afirmou que os nossos apoiantes, os nossos patriotas, são lixo. Ele está a falar sobre os americanos comuns que amam o seu país”, criticou Rubio.

A porta-voz da campanha de Trump, Karoline Leavitt, voltou a insistir neste ângulo de ataque político ao Presidente democrata. “Não há como distorcer: Joe Biden e Kamala Harris não odeiam apenas o Presidente Trump, mas também desprezam as dezenas de milhões de americanos que o apoiam.”

E até mesmo alguns democratas proeminentes começaram a distanciar-se dos comentários de Biden. Em declarações à estação televisiva CNN, o governador democrata da Pensilvânia, Josh Shapiro, disse que “nunca insultaria o bom povo da Pensilvânia ou qualquer americano, mesmo que escolhessem apoiar um candidato de outra cor política”.

Outras notícias que marcaram o dia:

A seis dias das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Kamala Harris comprometeu-se na Carolina do Norte a fazer da redução do custo de vida prioridade principal, caso derrote Donald Trump, que tem usado a inflação para atacar a democrata. “No topo da minha lista está baixar o vosso custo de vida”, disse a candidata. Este é um dos estados onde uma vitória pode influenciar o resultado final e, antes de subir ao palco, Kamala Harris recebeu uma boa notícia: uma declaração de apoio do principal jornal da Carolina do Norte, o News and Observer.

Trump diz que vai defender as mulheres “quer elas gostem ou não”. Segundo Trump, caso ele seja presidente vai tornar as comunidades das “mulheres da América” mais seguras e, por isso, assegura que elas não vão precisar de “pensar no aborto”. Estes têm sido alguns comentários recorrentes de Trump, mas esta quarta-feira acrescentou, segundo o “The New York Times”, que tinha dito aos seus conselheiros: “Eu disse, bem, eu vou fazer isso quer as mulheres gostem ou não. Vou protegê-las”. Kamala reagiu às declarações do seu oponente. “​​Donald Trump acha que deve ser ele a tomar decisões sobre o que fazem com o vosso corpo”, escreveu na rede social X.

O ator Arnold Schwarzenegger, que foi governador do estado da Califórnia pelo Partido Republicano, anunciou o seu apoio a Kamala Harris. “Serei sempre um americano antes de ser um republicano”, escreveu numa publicação no X. O ex-governador lamentou que o ex-Presidente tenha optado por uma retórica de ataque contra quem não o apoia.

Especialistas em violência política expressaram a sua preocupação com os dias a seguir às eleições presidenciais nos Estados Unidos, frisando que há uma tendência para normalizar a retórica violenta na última década. “Não estou preocupada com a violência no dia das eleições. As pessoas não devem ter medo de ir votar. Tudo decorrerá pacificamente. Estou preocupada com os dias a seguir à eleição, que não terá resultados de forma imediata”, disse Rachel Kleinfeld, curadora da Freedom House, organização sem fins lucrativos com sede em Washington.