Luís Montenegro assume que foi “provocatório” nas recentes declarações que fez sobre os jornalistas. Num artigo de opinião publicado no jornal Expresso, o primeiro-ministro afirma, contudo, que a reação às palavras foi "exagerada" e "descontextualizada".
Esta terça-feira, numa conferência sobre o futuro dos média, o chefe de Governo afirmou que os jornalistas “não estão a valorizar” a própria profissão, classificando-os como “ofegantes” e sugerindo que recebem “perguntas sopradas ao auricular”.
As palavras foram criticadas pela oposição, que acusou o chefe de Governo de "não respeitar o trabalho dos jornalistas" e de "atacar a liberdade jornalística".
Agora, o primeiro-ministro vem justificar-se. Num artigo que assina nas páginas do Expresso, Luís Montenegro defende que o discurso que fez se pautou pela “valorização do papel insubstituível do jornalismo” e afirmação deste “pela qualidade e responsabilidade”.
“Aceito que fui provocatório q.b., mas a reação a que assisti de vários quadrantes, além de manifestamente exagerada, foi muito descontextualizada. Sim, porque havia um contexto!”, afirmou o primeiro-ministro, no artigo de opinião.
Luís Montenegro faz questão de sublinhar que não desconhece “a utilidade” dos auriculares e dos telemóveis na profissão dos jornalistas, nem “o potencial das redes sociais, quando utilizadas com rigor”.
“Eu próprio e os membros do meu Governo utilizamos esses aparelhos na nossa intercomunicação e as redes sociais como poderosa ferramenta de comunicação direta”, argumentou.
O jornalismo "puro" vs. o "assunto do dia"
O primeiro-ministro refere, ainda assim, que, no contacto com os jornalistas no terreno, assiste a episódios em que estes são “instados a mudar de tema” e a fazer as perguntas que lhes são “solicitadas” sobre o chamado “assunto do dia”.
Luís Montenegro insiste que não é esse o caminho para “estimular” o jornalismo “puro” e que o regime precisa de “informação rigorosa, isenta e que não vá apenas atrás do tema do dia assegura”.
O chefe de Governo garante estar preocupado com a “cada vez maior precariedade laboral dos jornalistas”, que, sustenta, “dificilmente não é prejudicial aos direitos de informar e ser informado”.
Por isso, o primeiro-ministro insiste na mais-valia de fazer transformações na comunicação social, referindo o plano que apresentou para o setor, esta semana, assegurando que pretende pôr em prática medidas para “valorizar” o trabalho dos órgãos de comunicação “tradicionais”.