
Nas últimas décadas, os casos de melanoma têm aumentado na União Europeia, assim como a sua mortalidade, segundo a Comissão Europeia. É o sexto tipo de cancro mais comum em homens e o quinto mais comum em mulheres. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior será a taxa de sobrevivência. Por isso, um projeto letão desenvolveu um dispositivo que, em segundos, é capaz de perceber se o paciente tem melanoma.
Caso existam suspeitas de que uma mancha na pele possa ser melanoma, a única forma de o confirmar hoje é através de uma biópsia. Para encurtar o tempo de diagnóstico e garantir que qualquer paciente que vá ao médico consegue dissipar as suas suspeitas, a startup Bdetect, na Letónia, desenvolveu um dispositivo único para detetar melanoma.
“É muito económico, rápido e preciso”, afirma Ronalds Skulme, diretor-geral da startup. O dispositivo de deteção funciona através da emissão de luzes de cores diferentes, que são dispersas e absorvidas consoante a composição da pele. Nesse momento, são captadas “imagens multiespectrais”, que mostram a reflexão das luzes, sendo criado algo semelhante a “um mapa da formação da sua pele. E se estiver destacado a vermelho vivo, significa que será cancro da pele”.
A interpretação deste “mapa” é feita por um algoritmo matemático e por outro de inteligência artificial, para tornar os resultados “mais fiáveis e precisos”. Enquanto a inteligência artificial é treinada com imagens para identificar vários tipos de cancro da pele, o algoritmo matemático vê “certos cromóforos (pigmentos da pele) e calcula uma pontuação, o que consegue provar por que obtivemos certos resultados”, explica Dmitrijs Bļizņuks, professor na Universidade Técnica de Riga e diretor de tecnologia da Bdetect.
Outra vantagem deste dispositivo portátil é a capacidade de as luzes penetrarem quatro milímetros na superfície da pele. Há aplicações para smartphones, que através de uma foto, detetam cancro da pele, contudo “são treinados apenas com imagens normais” e “não conseguem ver debaixo da pele, enquanto o nosso dispositivo consegue. Por isso é muito, muito diferente”, explica.
Ronalds Skulme acrescenta que o objetivo é tornar o dispositivo “o mais acessível possível”, para que se possa “salvar algumas vidas”. Se o melanoma for detetado precocemente, a taxa de sobrevivência é superior a 90%, segundo a Skin Cancer Foundation. Por este motivo, é possível integrar a ferramenta facilmente, tanto em espaços hospitalares como em instituições não clínicas. “Nos salões de beleza, se estivermos a receber uma massagem e, de repente, víssemos uma formação cutânea suspeita, poderíamos ser examinados aí”, exemplifica.
A sua aplicação transversal permite ainda eliminar o custo de uma biopsia, o único método clínico de perceber se é realmente cancro da pele, assim como a deteção precoce permite também reduzir os custos que estariam associados a um tratamento mais invasivo.
Com este aparelho, o tempo de espera para identificar um possível cancro na pele é incrivelmente reduzido. “Pode ser examinado em alguns minutos e os resultados são instantâneos e muito precisos”, afirma o diretor-executivo da Bdetect. Atualmente, a taxa de precisão para o melanoma é de 97%, tendo o dispositivo sido testado em quatro mil lesões.
Apesar da capacidade de distinguir entre vários tipos de cancro da pele, a equipa de investigação reparou que os médicos de clínica geral estão mais interessados em ter algo que identifique se a formação cutânea é benigna ou maligna, o que também é possível com esta ferramenta.
“Não gostamos de comparar os nossos resultados com os dos dermatologistas”, alerta ainda Ronalds Skulme. O objetivo é integrar este dispositivo na rotina do especialista, sendo que pode até servir para o libertar de alguma carga de trabalho. “Podem, por vezes, dar este dispositivo a uma enfermeira e ela pode verificar alguns doentes, enquanto ele trabalha apenas com os casos mais graves”, exemplifica.
Há muitos dermatologistas interessados nesta ferramenta, assim como clínicas. Embora ainda não esteja disponível no mercado, Dmitrijs Bļizņuks explica que este aparelho “em constante desenvolvimento” está “pronto para a produção em massa”. “Estamos a trabalhar arduamente para trazer esta tecnologia para o mercado”, acrescenta ainda Ronalds Skulme.
A ajuda imprescindível dos fundos comunitários
O projeto desenvolvido pela Universidade da Letónia e pela Universidade Técnica de Riga recebeu o financiamento de cerca de 648 mil euros, sendo que cerca de 551 mil euros são provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Dmitrijs Bļizņuks explica que este apoio financeiro permitiu desenvolver a investigação científica que, mais tarde, serviu de base para a criação da start-up Bdetect. “Se não fosse isso, não teríamos nada”, diz.