A Europa tem o que é necessário para liderar a economia do futuro. As nossas tecnologias, serviços e produtos são criados numa economia social de mercado forte com mão de obra altamente qualificada, baixos níveis de desigualdade e altos padrões sociais e ambientais. Temos um ambiente jurídico estável e previsível. Temos um mercado único de dimensão continental. Temos a segunda maior economia e somos o maior setor comercial do mundo. Mas estes trunfos não chegam, pois também temos insuficiências que urge ultrapassar, nomeadamente em termos de produtividade e aprovisionamento energético.
O diagnóstico sobre os desafios da competitividade europeia foi apresentado por Mario Draghi em setembro do ano passado de uma forma clara e num tom urgente. E a resposta da Comissão Europeia foi conhecida esta quarta-feira, com a apresentação da Bússola para a Competitividade pela Presidente Ursula von der Leyen.
Esta Bússola é a doutrina económica da Comissão para os próximos cinco anos e marca uma mudança de mentalidade para a Europa e para os europeus. Vamos simplificar, investir e acelerar as nossas prioridades económicas com base em três pilares estratégicos: colmatar o fosso que separa a Europa de outros em termos de inovação; prosseguir a descarbonização da economia mantendo-a competitiva; reduzir a dependência excessiva de terceiros e reforçar a nossa segurança.
É necessário impulsionar a produtividade através da inovação, ultrapassando os obstáculos do mercado único e melhorando o acesso ao capital. A União Europeia enfrenta desafios na transformação da poupança em investimento. Embora as famílias europeias poupem cerca de 1,4 biliões de euros por ano (quase o dobro dos EUA), apenas 5% do capital de risco global é captado na União Europeia, comparado com 52% nos EUA e 40% na China.
O próximo orçamento europeu é a oportunidade para simplificar o acesso ao financiamento e reorientar as nossas prioridades, mas não ficaremos por aí. A Comissão Europeia apresentará a União Europeia da Poupança e do Investimento com o objetivo de reforçar o mercado de capitais e facilitar o fluxo de investimentos em toda a União. Tal como foi sublinhado pela Presidente da Comissão Europeia, a Comissária Maria Luís Albuquerque terá aqui um papel essencial, na liderança dos esforços para desenvolver um mercado de capitais mais profundo e líquido, capaz de desempenhar um papel impulsionador da competitividade e da inovação na União Europeia.
A descarbonização é o segundo grande pilar desta estratégia e uma parte fundamental para a continuação do caminho percorrido nos últimos anos. A União Europeia é líder mundial em tecnologias limpas, com mais de um quinto das tecnologias sustentáveis mundiais a serem atualmente desenvolvidas aqui na Europa. Mantemos bem presentes os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e acreditamos que uma economia com impacto neutro no clima é essencial para a prosperidade.
Por último, é essencial reduzir dependências excessivas e aumentar a segurança, uma vez que não podemos depender de um grupo limitado de fornecedores de países terceiros. Precisamos de continuar a desenvolver parcerias eficazes com cooperação mutuamente benéfica, seguindo as regras para, assim, mitigar os riscos. Mas não seremos ingénuos. Para continuar a ser um local seguro e atrativo, é necessário garantirmos a autonomia em áreas como a defesa, a segurança e a resiliência e a Bússola para a Competitividade identifica uma nova geração de acordos comerciais com esse objetivo.
No mesmo dia em que a Presidente von der Leyen apresentou em Bruxelas a estratégia para a competitividade, Mario Draghi foi a figura central da reunião do Conselho de Estado, convocado pelo Presidente da República, que decorreu em Lisboa. Uma feliz coincidência que mostra que Portugal está mobilizado para o esforço coletivo que esta transformação vai exigir.
Estamos numa corrida contra o tempo para converter os desafios em oportunidades, fortalecer a nossa posição mundial e reescrever o nosso futuro enquanto União. Num mundo com alguns gigantes económicos, a nossa escala continental é uma vantagem única. E, como a história tem demonstrado, quando a Europa se une, a Europa faz acontecer.
Sofia Moreira de Sousa, Representante da Comissão Europeia em Portugal