
O cardeal Américo Aguiar admitiu esta sexta-feira que está a sentir o "peso" e o "medo" da decisão de escolher o sucessor de Francisco e que procura inspirar-se nas conversas anónimas dos peregrinos que estão por estes dias em Roma.
Nomeado cardeal por Francisco, o bispo de Setúbal tem estado nas congregações gerais, reuniões de cardeais que antecedem o conclave, e procura preparar-se para a reunião eleitoral do sucessor do Papa, que morreu na passada segunda-feira.
Em entrevista à Lusa, o cardeal português admitiu que existe um "sentimento de medo, de receio e de pequenez, quanto mais se aproxima a data" do conclave, uma vez que está em causa a "consciência da responsabilidade e do peso" da escolha de um sucessor do Papa.
A escolha é particularmente difícil tendo em conta o momento que o mundo está a viver e o facto de Francisco ter sido, até agora, uma das raras “vozes encantatórias” que eram “ouvidas transversalmente”, adiantou o Bispo de Setúbal.
Até à data do conclave, os cardeais têm reuniões diárias e, nos intervalos, D. Américo Aguiar tem aproveitado para passear junto à Basílica, no Vaticano, para procurar entender "o cheiro das ovelhas, o cheiro da humanidade".
Nesses passeios, procura ouvir o que grupos de peregrinos falam entre si. "Ouvir as expectativas das pessoas é muito bonito", explica, no seguimento do exemplo do Papa que passeava por São Pedro, procurando mostrar disponibilidade para ouvir todos, "independentemente do seu credo, da sua religião, da sua proveniência".
Sobre o que vai fazer no conclave, Américo Aguiar prefere não comentar. "No primeiro dia em que participei, fiz juramento e assinei um documento que dizia que não me pronunciava absolutamente nada sobre as congregações ou o conclave", explicou D. Américo Aguiar, que não se imagina a discursar da varanda, eleito Papa.
"Não, absolutamente", porque o eleito deve ser alguém que tenha "poder e peso" que não cabe à sua geração, afirmou o cardeal de 51 anos, embora salientando que a decisão caberá sempre ao que considera ser a inspiração divina.
"Entendo que deva ser alguém que tenha mais quilómetros, mais rodagem, mais perceção da geopolítica mundial", defendeu. Ainda assim, ressalvou, “se o Espírito Santo apontar para o cardeal australiano, que tem 44 anos, então será ele”.
Já sobre o futuro da Igreja e o caminho de mudança introduzido por Francisco, Américo Aguiar tem mais certezas: o "Espírito Santo não tem marcha atrás".