A Assembleia Municipal de Lisboa vai apresentar queixa contra o "movimento extremista" que interveio esta terça-feira na reunião, após inscrição com "um outro nome", indicou a presidente deste órgão, recusando permitir que "os extremistas destruam" as instituições democráticas da cidade.

"Quanto à provocação a que assistimos hoje por parte do movimento extremista que se inscreveu para usar da palavra do público a coberto de um outro nome, queria deixar claro que não permitiremos que os extremistas destruam as instituições democráticas da cidade", afirmou a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), Rosário Farmhouse (PS), no final da reunião.

Rosário Farmhouse disse que aquando da intervenção deste movimento, que ocorreu no início da reunião, pediu à Polícia Municipal que "identificasse as pessoas", em que se inclui o presidente do grupo ultranacionalista Reconquista, Afonso Gonçalves, que foi quem subiu ao palco, embora se encontrasse acompanhado de outros cidadãos, que filmavam a sua intervenção, sem qualquer autorização para o efeito.

"Vamos apresentar a competente queixa às autoridades", revelou a presidente da AML, tendo sido aplaudida pelos deputados.

A este propósito, o grupo municipal do PCP pediu à Mesa da AML que formalizasse uma queixa contra os cidadãos do grupo ultranacionalista que intervieram esta terça-feira na reunião plenária, considerando que houve um desrespeito "muito grave", com insultos e ameaças.

"O grupo municipal do PCP requer, para os devidos efeitos, que a Mesa da Assembleia formalize, em nome do órgão a que preside, uma queixa junto dos órgãos competentes contra os cidadãos que intervieram e desrespeitaram no período do público da reunião de hoje, e de forma muito grave, a Assembleia Municipal de Lisboa, insultando os eleitos e proferindo ameaças sobre os mesmos", expôs a deputada comunista Natacha Amaro, num requerimento oral.

AML suspensa após intervenção de grupo ultranacionalista

A reunião da AML foi temporariamente suspensa após intervenção do presidente do grupo ultranacionalista Reconquista, Afonso Gonçalves, que foi retirado da sala pela Polícia Municipal por desobedecer às regras deste órgão.

A suspensão da reunião durou cerca de três minutos, que foi o tempo necessário para retirar Afonso Gonçalves do palco da AML, após ter terminado o período disponível para intervir e se recusar a terminar a intervenção.

Enquanto dois elementos da Polícia Municipal retiravam Afonso Gonçalves do palco, os partidos de esquerda gritaram "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais", ao que um elemento do grupo Reconquista respondeu, enquanto filmava: "Comunas. Um dia vão pagar caro".

Perante esta intervenção, a deputada do BE Maria Escaja lamentou o sucedido e pediu que sejam tomadas as devidas diligências.

"Houve um munícipe do grupo deste cidadão que fez uma ameaça a parte desta assembleia, que disse que haveríamos de pagar caro e nos fez dois gestos considerados obscenos", acrescentou.

Mais tarde, ainda durante a reunião da AML, Maria Escaja disse que iniciou "um processo de queixa contra a ameaça" que foi feita pelo grupo ultranacionalista.

Além da intervenção da Polícia Municipal, esteve na AML a Polícia de Segurança Pública (PSP).

"A presidente da Mesa solicitou à Polícia Municipal para me retirar e para me identificar como se eu tivesse cometido algum tipo de crime ou algum tipo de ilegalidade", afirmou posteriormente em declarações à Lusa o líder do Reconquista, alegando só ter solicitado "algum decoro na sala" para que pudesse realizar a sua intervenção e isso não lhe foi possibilitado.
"Referi que era vergonhosa esta atitude, fui levado para fora da sala, nem sequer fui identificado e os próprios polícias municipais disseram-me que poderia ir embora", acrescentou.

Depois do sucedido dentro da AML, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), responsável por territórios como o Martim Moniz, disse que, no exterior, foi "assediado" por Afonso Gonçalves que o apelidou de "traidor à pátria por gostar de imigrantes".

Na sua intervenção na AML, marcada pelo desrespeito pelas regras, Afonso Gonçalves disse: "Venho dar voz aos problemas dos lisboetas, de forma realista e honesta, apesar da censura e do silenciamento que me têm tentado impor e a que sou sujeito. A Lisboa de hoje já não é a verdadeira Lisboa. A Lisboa de hoje é uma capital de sujidade, de substituição populacional, de crime, de insegurança".