
Um jogo que incentiva o utilizador a “se tornar no pior pesadelo de qualquer mulher” e a “nunca aceitar o não como resposta”. É assim que é descrito o “No Mercy”, um videojogo da plataforma de jogos Stream, alvo de diversas denúncias por ser considerado como um jogo que promove a violação e o incesto.
"Este é um jogo choice-driven e uma novela visual para adultos com foco no incesto e na dominação masculina. No caso de a tua mãe ter destruído a tua família, tu tens um novo papel: não é resolver a situação, mas, sim, tomá-la como tua. Descobre os seus segredos obscuros, domina-a e torna todas as mulheres", pode ler-se na sinopse.
Após as críticas, o jogo já não está disponível na plataforma Steam Portugal.
"Infelizmente, muitas pessoas confundem ficção com realidade"
"Tomámos a decisão de retirar o No Mercy da Steam", lê-se num comunicado da Zerat Games, responsável pela criação disponibilizada na Steam.
No comunicado, a Zerat pede desculpas a quem considera que "o jogo não devia ter sido criado", solicitando maior abertura "aos fetiches humanos que não prejudicam ninguém, mesmo que te pareçam nojentos".
"Isto continua a ser apenas um jogo e, embora muitas pessoas estejam a tentar transformá-lo em algo mais, continua a ser e continuará a ser um jogo", acrescentam.
Lembrando que o jogo já tinha sido bloqueado na Austrália, Canadá e Reino Unido, a Zerat diz que não tenciona "lutar contra o mundo inteiro" e que não quer causar problemas à Steam.
"Caro Mundo. Tem havido muito barulho sobre o jogo No Mercy. Foram muitas vezes repetidas informações falsas sobre o conteúdo do jogo. As pessoas criaram vídeos e falaram com grande convicção de coisas que não estavam no jogo", afirma a Zerat no comunicado.
A criadora do jogo refere ainda que, "infelizmente, muitas pessoas confundem ficção com realidade, criando histórias fabricadas em que as pessoas que jogam No Mercy saem para a rua e cometem atos vis".
Jogo foi alvo de diversas críticas
Na quinta-feira, o Centro Nacional de Exploração Sexual dos Estados Unidos (NCOSE), através de um comunicado, pediu a retirada do videojogo que “promove violência sexual explícita, incesto, chantagem e dominação masculina, incentivando explicitamente os jogadores a se envolverem em atos não consensuais e comportamento misógino”.
"O jogo continua disponível globalmente, inclusive nos Estados Unidos, perpetuando a sua influência prejudicial sobre milhões de usuários, incluindo menores que podem facilmente burlar as medidas de verificação de idade.
“O NCOSE apela à Steam para remover imediatamente o ‘No Mercy’ da sua plataforma em todo o mundo e implementar políticas mais rigorosas para impedir a distribuição de jogos que glorifiquem ou promovam a violência sexual e a objetificação", pode ler-se no comunicado.
No Reino Unido, a secretária de Estado dos Assuntos Internos, assinalou,em declarações à rádio inglesa LBC, que "este tipo de conteúdo repugnante já é ilegal" ao abrigo do Online Safety Act.
Nas redes sociais, Nuno Markl criticou a plataforma por aceitar "vender um jogo independente manhoso, grotesco, cujo objectivo é, exclusivamente, abusar do máximo de personagens femininas - percebemos uma vez mais o quão desigual é este braço de ferro que temos de fazer com o mundo para que os miúdos não se tornem psicopatas.
“Juro-vos: nunca pensei viver para ver este estado de coisas. Machismo e misoginia sempre houve. Mas agora é trendy, comercializável, nem que acabe em violência e morte. Isto é uma distopia criada por homens de merda para formar novos homens de merda. Rapazes, querem ser Homens a sério? Sejam contra isto. Ser a favor disto é ser mais fraco que um insecto”, escreveu
- Com Lusa
[Notícia atualizada às 11:00]