Nuno Borges entrou na Rod Laver Arena, em Melbourne, com a ambição de, pelo menos, repetir o feito histórico da época passada, quando se tornou no primeiro português a figurar na quarta ronda do Open da Austrália. Apesar da "intensidade incrível" do oponente, Carlos Alcaraz, o atleta natural da Maia ainda conseguiu conquistar um 'set', porém insuficiente para seguir em frente no primeiro Grand Slam da temporada.
Carlos Alcaraz, de apenas 21 anos, mas já um dos nomes mais temidos do ténis mundial, venceu o atleta luso, esta sexta-feira, em quatro 'sets', pelos parciais de 6-2, 6-4, 6-7 (3-7) e 6-2.
Jogar à melhor de cinco é sempre "emocionante", palavras do tenista de 27 anos, que, em entrevista à SIC, confessa que jogar contra Carlos Alcaraz, atual número 3 do ranking ATP, no maior 'court' de Melbourne Park foi "extra-desgastante".
Sai "triste" da Austrália, confidencia, não só pela derrota, mas também porque o primeiro Grand Slam da temporada é um dos mais especiais para o desportista luso.
Apesar de não avançar no torneio, assume que a experiência foi positiva:
"Estou contente com a semana, com a prestação que tive. Acho que, no fundo, cumpri o meu objetivo e estou contente, não só por este torneio, mas com a maneira como tenho vindo a jogar."
"O Carlos joga com uma intensidade incrível"
A verdade é que do outro lado do 'court' estava um dos melhores tenistas da atualidade, o que, à partida, não era uma sentença para o português, no entanto o estilo agressivo do espanhol dificultou-lhe a vida:
"O Carlos joga com uma intensidade incrível e sinto que, à primeira oportunidade que ele tenha, joga sempre uma direita com muita, muita força e causa logo muito desconforto no meu jogo."
O maiato não se conseguiu superiorizar à "pressão" do adversário, apesar de reconhecer que, em determinados momentos da partida, competiu "de igual para igual".
"No geral ele esteve superior", admite.
Mas como é que o desportista de 27 anos encarou o encontro que lhe poderia valer o passaporte para a quarta ronda do Open da Austrália?
Nuno Borges explica que se tentou focar "num 'set' de cada vez", mesmo depois de ter sentido "uma ascendente" com a vitória no terceiro – que poderia ter sido o último caso não levasse a melhor:
"Eu sabia que ia ter de voltar a lutar pelo quarto 'set', ou por qualquer 'set', da mesma maneira que comecei os outros, mas sim deu-me um bocadinho mais de ânimo. Se acreditava que ia ganhar? Ainda faltava um bocadinho mais e sabia que tinha um percurso ainda grande para percorrer."
Portugal e Espanha: tão próximos, mas com culturas desportivas tão distintas
O jogo desta madrugada colocou frente a frente os expoentes máximos do ténis dos respetivos países, duas nações tão próximas, mas com uma "cultura desportiva" bastante distinta, lembra o tenista.
Apesar de reconhecer que ambas as nações "estão sempre muito focadas no futebol", aponta que, no país vizinho, "o ténis tem já uma história muito grande".
"Em Portugal não temos nem parecido. Às vezes andamos aqui no circuito e reparamos que há mesmo ex-jogadores que ainda andam por aí e que nós dizemos que são 'mais do que as mães' porque, realmente, parece que um jogador top-200 espanhol é encontrado num torneio e é considerado normal e banal, enquanto em Portugal somos muito poucos", constata.
E quanto ao futuro do "seu" desporto em Portugal?
Apesar de o ténis em ainda ter um longo percurso para palmilhar rumo à afirmação, o 33.º do ranking mundial crê que o cenário "tem vindo a melhorar". Prova disso é o cada vez "mais recheado" calendário de provas em solo nacional, uma realidade que, de acordo com o tenista, pode contribuir significativamente para alterar o paradigma do ténis por cá.
Nuno Borges já sabe o que é estar no top-30
Em setembro passado, Nuno Borges sentiu pela primeira vez na carreira o gosto do top-30 mundial depois de ter logrado os oitavos de final do Open dos Estados Unidos.
Ainda assim, o 30.º lugar na hierarquia global não foi suficiente para chegar à mais alta classificação alcançada por um tenista português - 28.º lugar de João Sousa, em 2016 -, mas com 27 anos e ainda muito para dar ao desporto essa é uma realidade que não parece, de todo, inalcançável.
Como feito maior na carreira, o desportista tem a conquista do torneio de Bastad frente ao histórico Rafael Nadal, em julho passado.
Pese embora o entretanto aposentado tenista espanhol estar, na época, numa fase descendente da carreira, o feito não deixa de ser igualmente assinalável até porque este foi o primeiro troféu ATP da carreira de Nuno Borges.