O financiamento do governo federal norte-americano para a investigação do cancro caiu 31% desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca, alertou esta terça-feira um relatório do Senado que denuncia uma "guerra contra a ciência" pelos republicanos.

O documento, elaborado por iniciativa do senador democrata Bernie Sanders, indica que pelo menos 13,5 mil milhões de dólares (12 mil milhões de euros) de financiamento público para cuidados de saúde foram cortados pelo governo durante o primeiro trimestre de 2025.

Entre as organizações mais afetadas está a agência de investigação médica norte-americana (NIH, na sigla em inglês), que, por si só, registou 2,7 mil milhões de dólares (2,4 mil milhões de euros) em cortes orçamentais ao longo de três meses de presidência Trump, adianta o relatório, realizado com base na revisão de dados e entrevistas com autoridades, cientistas e doentes.

Estes cortes afetaram particularmente o financiamento para a investigação do cancro, que caiu 31% em comparação com o mesmo período do ano passado, atingindo o nível mais baixo em pelo menos dez anos, de acordo com o relatório.

Estados Unidos líderes na investigação

Os Estados Unidos são líderes mundiais na investigação do cancro.

O documento apresenta ainda testemunhos anónimos de autoridades federais e cientistas que retratam o "caos" no Departamento de Saúde e Serviços Humanos e nas agências federais que este supervisiona.

O Departamento está a ser alvo de uma grande reestruturação, que segundo a Administração Trump implica a eliminação de quase um quarto da força de trabalho.

Além dos despedimentos em massa, o relatório descreve o fim abrupto do financiamento, a exclusão das bases de dados de saúde, interferência política em decisões anteriormente deixadas aos cientistas.

As consequências incluem médicos ficarem "sem orientação", medicamentos alternativos controversos serem promovidos no meio de uma epidemia de sarampo com mais de mil casos e três mortes, além de tratamentos atrasados.

Um caso focado é o de uma doente que sofria de cancro colorretal e viu o ensaio clínico de que deveria beneficiar ser adiado devido à falta de pessoal.

O Departamento de Saúde recorreu à plataforma X para contestar o relatório, que qualificou de "distorção politicamente motivada" da realidade.

O secretário da Saúde, Robert Kennedy Jr., tem sido muito criticado pela oposição pela sua forma de lidar com a epidemia de sarampo no país e pela ampla reforma das autoridades de saúde que iniciou.

Kennedy Jr. deverá testemunhar na quarta-feira perante um comité de senadores sobre o assunto.

Com LUSA